Michael e Alicia: dramalhão dos bons.
Após sobreviver aos horrores da Primeira Guerra Mundial o introspectivo Tom (Michael Fassbender) chega à costa australiana para cuidar de um farol. Ele é bem recepcionado por uma família local, os Graysmark, especialmente pela filha deles, Isabel (Alicia Vikander). Antes de partir para a sua solitária tarefa é perceptível que surge uma fagulha entre os dois, que se intensifica cada vez mais, principalmente porque a alegria de Isabel é tudo o que falta ao calejado faroleiro - que não demora irá casar com ela e viver feliz num mundo somente dos dois. No entanto, o destino mostra-se cruel quando Isabel percebe que não é capaz de ter filhos. Parece sempre faltar algo ao casal de expectativas frustradas quando o filho desejado não chega. Eis que um dia o mar traz um bebê num barco perdido ao lado de um homem morto. Isabel percebe aquilo como um presente divino, uma espécie de reparação por toda a dor que maternidade negada lhe proporcionava até então. Tom tem plena ciência dos deveres de sua profissão, mas Isabel implora que nenhuma notificação seja feita e que eles cuidem da menina. Parece que eu contei demais? Bem, qualquer um que tenha visto o famigerado trailer do filme (que deu início ao romance entre dois dos atores mais badalados do cinema atual) já sabia tudo o que citei acima e mais ainda, sabe que a coisa irá desandar quando toda a felicidade familiar for ameaçada quando a mentira que construíram vier à tona. A Luz Entre os Oceanos é um filme que não tem medo de mergulhar no drama vivenciado pelos seus personagens e o torna cada vez mais intenso justamente pelos dilemas que inflige sobre eles (e que contamina a plateia de forma inevitável), especialmente quanto surge a personagem de Rachel Weisz se equilibrando entre vítima e algoz, levando as angústias do casal ao limite. O filme é feito no capricho! Fotografia espetacular, trilha sonora de deixar os olhos marejados, enquadramentos perfeitos, atuações irretocáveis, tudo no lugar certo para um drama na linguagem mais clássica do cinemão. O que surpreende é que o filme é esteticamente muito diferente dos outros filmes do diretor Derek Cianfrance (do excelente Namorados Para Sempre/2010 e o mediano O Lugar Onde Tudo Termina/2012), que sempre apresentou um estilo cru e até "sujo" em suas obras anteriores. No entanto, aqui ele mostra aos seus detratores que ele domina a técnica cinematográfica muito bem e melhor do que muito diretor oscarizado. Além de ter um ótimo trabalho junto aos atores, Derek revela aqui algo curioso (e não estou falando no efeito do tempo nos relacionamentos, com suas idas e vindas narrativas ou dores e amores sobrepostos): seu maior interesse é por figuras paternais de filhos não biológicos (reparou isso nos três filmes anteriores dele? Senão, vale a pena conferir). Parece um detalhe pequeno, mas que revela muito sobre o olhar terno que o diretor tem sobre esses personagens, geralmente incompreendidos em suas narrativas. Se o farol do filme está entre dois oceanos, A Luz Entre os Oceanos coloca seus protagonistas diante de um mar de escolhas e suas consequências não muito desejadas. Baseado no livro de M.L. Stedman, o resultado é uma pérola do dramalhão - gênero que quando bem feito é bonito de doer!
A Luz Entre Oceanos (The Light Between the Oceans/EUA - Nova Zelândia - Reino Unido) de Derek Cianfrance com Michael Fassbender, Alicia Vikander, Rachel Weisz e Bryan Brown.☻☻☻☻☻
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