Jackman: Bye, bye Wolvie...
Não parece, mas há 17 anos que o australiano passou de um ator desconhecido para se tornar o intérprete do herói mutante mais famoso do cinema. Hugh Jackman tinha 32 anos e dois filmes no currículo quando foi escolhido para substituir Dougray Scott no papel de Wolverine no primeiro X-Men (2000). De lá para cá, Hugh virou astro, símbolo sexual, trabalhou com diretores importantes (Woody Allen, Christopher Nolan, Darren Aronofsky, Baz Luhrman, Denis Velleneuve...), foi indicado ao Oscar (pelo musical Os Miseráveis/2012) e ainda viveu Wolverine outras cinco vezes. Com os cinquenta anos batendo na porta (precisamente em 12 de outubro de 2018) o ator começou a perceber que estava na hora de se despedir do personagem e ter mais tempo para se dedicar a outros projetos. Além dos filmes dos X-Men, Wolverine também teve duas aventuras solo que nunca caíram na graça dos fãs e Jackman queria se despedir do personagem em grande estilo. Ajudou muito o fato do desbocado Deadpool/2016 demonstrar que um filme de herói para maiores era capaz de gerar bilheterias robustas, mas eu ainda fiquei assustado de colocarem Wolverine fazendo piadinhas chulas em sua terceira aventura solo. Graças a Deus não foi isso que aconteceu! Inspirado na trama da antológica HQ Velho Logan, o astro e o diretor James Mangold resolveram se despedir em grande estilo do personagem. O melhor de tudo é que ao utilizar uma trama no futuro (2024) o filme se distancia de toda confusão que foi feita na linha temporal dos mutantes nas telas, mostrando um tempo onde os X-Men não existem mais, Wolvie ganha a vida como motorista de limusines e cuida de um professor Xavier (Patrick Stewart) cada vez mais esquecido e descontrolado, precisando de medicamentos para evitar que algo pior aconteça (e adoro os efeitos utilizados quando acontecem). Para quem é fã dos discípulos de Xavier o filme traz uma alta carga emocional diante de um futuro em que os mutantes foram dizimados. No entanto, o filme tem muito mais a oferecer. O diretor James Mangold mostra-se mais uma vez um operário padrão a serviço de Hollywood, fazendo o que lhe pedem, aqui ele capricha no tom desiludido e desesperançoso do filme, criando com maestria um mundo sujo, empoeirado para o amargo Logan viver sua jornada de despedida. As coisas mudam quando uma enfermeira cruza o caminho do herói e pede para que leve uma menina a um paradeiro incerto. Desde a primeira cena em que aparece, sabemos que o destino da menina Laura (Dafne Keen) já está misturado ao do protagonista, que se verá tendo que protegê-la de um grupo de mercenários conhecidos como Carniceiros - que farão de tudo para capturar a menina e devolvê-la ao seu... melhor parar por aqui. Enquanto Wolverine descobre que tem mais em comum com Laura do que imagina, Mangold bebe diretamente na fonte dos faroestes clássicos para construir um filme que impressiona pela sua violência gráfica e uma densidade de filme de gente grande. Ainda no trabalho de Mangold, merece destaque a excelente condução de atores. Jackman vive um Wolverine completamente diferente, decadente, fragilizado, com seus poderes se tornando cada vez mais fracos com o passar do tempo. Ele está muito bem acompanhado por Patrick Stewart, que vive um Professor Xavier com mais destaque e nuances do que o vimos nos últimos anos, some a esta dupla conhecida o comediante Stephen Merchant (excelente como Caliban) e a dramaticidade de Elizabeth Rodrigues de Orange is the New Black) e você terá o melhor elenco de um filme solo do mutuna. O filme pode ser dividido em duas partes, afinal, depois da cena da fazenda o filme perde um pouco de sua densidade e tudo se torna pretexto para uma orgia sanguinolenta em cenas conduzidas com uma energia impressionante. Não ficarei surpreso se o filme for aclamado como uma marco nas adaptações de histórias em quadrinhos para o cinema, especialmente por seus toques metalinguísticos e a seriedade com que o filme é tratado em sua primeira metade. Se é o fim de Jackman na pele do personagem eu não sei - ele mesmo já disse que voltaria ao papel se finalmente pudesse fazer parte de uma aventura dos Vingadores no cinema - mas o fato é que o ator conseguiu produzir uma aventura de respeito.
Logan (EUA/2017) de James Mangold com Hugh Jackman, Patrick Stewart, Dafne Keen, Stephen Merchant, Richard E. Grant e Elizabeth Rodrigues. ☻☻☻☻
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