terça-feira, 7 de março de 2017

CICLO DIRETORAS: Rainha de Katwe

Madina e Lupita: duas peças valiosas no tabuleiro de Mira Nair.

A cineasta Mira Nair nasceu na Índia no ano de 1957 e seguiu os estudos na Universidade de Dehi e em Harvard nos EUA. Profissionalmente chamou atenção como documentarista no final da década de 1970 antes de se aventurar por filmes de ficção em 1988 com o longa Salaam BomBay! O filme lhe valeu a Camera D'Or no Festival de Cannes e indicações ao Oscar, BAFTA e Globo de Ouro de filme estrangeiro.  Em 2001 seu filme "Um Casamento à Indiana" ganhou o prêmio máximo do Festival de Veneza. Embora sempre volte às suas origens, Mira vive nos Estados Unidos faz tempo e seu último filme foi este Rainha de Katwe, produzido pela Disney e que conta a história real da campeã mundial de xadrez Phiona Mutesi, menina nascida em Uganda, de origem muito pobre e que aprende a jogar xadrez meio que por acaso - e contrariando a vontade da mãe. Phiona é vivida com grande carisma por Madina Nalwanga, atriz estreante, nascida em Uganda e que aos dezesseis anos contracena com atores renomados como Lupita Nyong'o e David Oyelowo. A família de Phiona vendia milho para pagar as despesas familiares, mas, para o desespero da mãe viúva (a oscarizada Lupita em seu primeiro papel de destaque depois do Oscar por 12 Anos de Escravidão/2013) as vendas são sempre menores do que precisa para sustentar a família de cinco filhos - e em busca de mais dinheiro, a filha mais velha, Night (Taryn Kyaze) , começa a se prostituir. É assistindo a um jogo de futebol que Phiona e o irmão conhecem o instrutor Robert Katende (David Oyelowo), que trabalha num projeto social em que ensina crianças em situações de risco a aprender xadrez. Ainda que sofra discriminações dentro do próprio grupo de crianças, Phiona não desiste e aprende a dominar o jogo, derrotando os colegas que conhecem as regras a mais tempo e chamando atenção dentro do próprio grupo. Oyelowo tira de letra o papel de mentor da protagonista, afinal, como já viveu Martin Luther King em Selma/2014 (filme de outra grande diretora Ava Duvernay), sabemos que ele consegue ser inspirador diante da câmera. Com o ator na pele de Katende, ele personifica todos os sonhos da menina mudar de vida, enquanto a mãe - cheia de medos e inseguranças sobre o futuro - representa um obstáculo para a mudança de vida, não por maldade, mas por não querer que a filha sofra com ilusões de uma vida melhor que parece cada vez mais distante. São entre estes dois polos que Phiona tenta construir sua própria história - e momentos emocionantes não faltam. Mira Nair consegue contar esta história motivacional com grande energia - e se pensarmos que ela trabalha dentro da camisa de força dos estúdios Disney o resultado parece ainda melhor. É verdade que ela importa muito da estética de Bollywood para o filme seja na música constante ou no colorido nos figurinos (que serve de ótimo contraste com a aridez da paisagem), mas se  Rainha de Katwe não é um filme inesquecível, ele sabe contar de forma atraente a história de superação de uma menina com a vida cheia de problemas e que encontra nas estratégias do jogo  a sua redenção. No fim das contas fica a mensagem dita pelo instrutor: na vida, ao perder, devemos retirar as peças do tabuleiro e começar tudo de novo, assim como no xadrez. Phiona fez isso várias vezes até se tornar uma referência mundial.

Mira Nair

Rainha de Katwe (Queen of Katwee/EUA-2016) de Mira Nair com Madina Nalwanga, Lupita Nyong'O e David Oelowo. ☻☻☻

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