Ben e Penélope: romance e melancolia.
Os livros de Phillip Roth costumam complicar a vida dos diretores que tentam levar suas histórias para a tela, ainda assim, ele é um dos escritores favoritos quando o assunto é adaptação cinematográfica. Geralmente seus fãs ficam desapontados com o resultado, mas, pode se dizer que o trabalho da cineasta espanhola Izabel Coixet sobre o livro Animal Agonizante é uma das melhores adaptações do autor para o cinema. Talvez, o que faça a diferença seja a presença de uma mulher dirigindo uma história tão centrada no olhar masculino sobre um romance. O protagonista da história é o professor universitário David Kepesh (Ben Kingsley), ele adora sair com suas alunas mais jovens, mas isto não impede que ele tenha um relacionamento somente sexual com a colega Carolyn (Patricia Clarkson). Os dois são maduros e aparentemente bem resolvidos, se encontram regularmente há anos e não existem cobranças emocionais sobre namoro, casamento ou monogamia. A rotina de David muda quando ele conhece Consuela (Penélope Cruz) e, por mais que o romance entre os dois se intensifique, ele faz questão de manter um distanciamento, afinal, não se considera homem de assumir compromissos. No entanto, nasce ali um sentimento diferente, que David não sabe muito bem como lidar e que sofrerá um duro golpe quando o destino de Consuela sofrer uma mudança dolorosa. Com este material em mãos, muitos críticos e leitores perceberam que mesmo sendo fiel ao livro de Roth, Coixet banha seu filme em uma melancolia ainda maior, o que torna a história ainda mais interessante e revelador, especialmente em suas dores sobre o envelhecimento e a morte. Ben Kingsley está ótimo como o homem autocentrado que evita envolvimento emocional com as suas parceiras, mas é Penélope Cruz que tem o melhor momento do filme, naquela cena em que ela se despede de suas formas antes que o inevitável aconteça. É uma cena tão devastadora que ainda hoje não consigo assistir sem chorar como se fosse pela primeira. Não foi por acaso que a diretora resolveu colocar outro nome em seu filme, Elegy (Elegia, um poema lírico, terno e triste) que ilustra muito melhor o que vemos na tela (sabe se lá o motivo de no Brasil o filme se chamar Fatal). Coixet capricha em cada detalhe de seu filme, na fotografia, na condução de seus atores (com destaque ainda para o casal formado por Dennis Hooper e a rockeira Debbie Harry do Blondie). Este é o meu filme favorito da diretora nascida em Barcelona e que filma cada vez mais em língua inglesa. Não deixa de ser curioso que em um de seus filmes mais recentes (o bem mais leve Assumindo a Direção/2014) ela tenha trabalhado novamente com Patricia e Ben em papéis totalmente diferentes que vemos aqui.
Isabel Coixet
Fatal (Elegy/EUA-2008) de Isabel Coixet com Ben Kingsley, Penelope Cruz, Patricia Clarkson, Dennis Hooper, Debbie Harry e Peter Sarsgaard. ☻☻☻☻☻
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