Affleck: tropeço no quarto filme.
Tentei assistir o quarto filme de Ben Affleck na direção três vezes. Sempre que eu tentava vê-lo eu dormia. Imaginei que o filme dava azar por sempre cruzar o meu caminho quando estava mais cansado que de costume, mas... não é bem assim. Admiro muito o trabalho de Ben atrás das câmeras. Discuti horas com meus amigos quando eles não curtiram a versão que o livro de Dennis Lehanne rendeu em Medo da Verdade (2007), defendi os méritos de Atração Perigosa (2010) emular o clima do cinema policial dos anos 1970 (especialmente da atmosfera de Sidney Lumet) e achei uma sacanagem o Oscar não indica-lo ao prêmio de direção por Argo (2012). A Lei da Noite é o filme feito por Ben após Argo concorrer a sete Oscars e ganhar três (filme, roteiro adaptado e edição). Talvez por isso o filme Lei da Noite seja tão decepcionante. Um dos méritos de Affleck como cineasta era pegar um gênero que Hollywood já havia se acostumado e dar-lhes uma energia nova, seja na criação de tensão, nas atuações bem costuradas ou até em sua ambientação. Aqui ele parece seguir a cartilha dos filmes de gangster à risca. A fotografia (escura demais), os figurinos, os tipos que passam diante da câmera, tudo parece já ter sido visto antes em vários outros filmes. A história também é um tanto truncada ao contar a vida de Joe Coughlin (Affleck), um filho de policial que passou por más experiências na Primeira Guerra Mundial e volta para Boston. Não bastasse agir como gângster, ele segue passando mafiosos para trás até que quase perde a vida. É então que começa o segundo ato, onde ele vai para Flórida e começa uma nova fase no submundo da Lei Seca dos anos 1920. Ele se envolve com uma imigrante cubana (Zoe Saldana), tropeça em fanatismo religioso e até confusões envolvendo a Ku Kux Klan. São pontas demais para amarrar sem ter um roteiro bem lapidado (baseado em outro livro de Lehanne). O resultado é uma confusão narrativa desengonçada que não casa com a primeira parte do filme - e nem adianta gerar uma cena final para comover a plateia. Embora a câmera de Ben ainda tenha bons momentos (especialmente nas cenas de ação), A Lei da Noite resulta tão pretensioso quanto desengonçado e parte disso se deve ao próprio Ben - não cineasta, mas o ator (que não confere o carisma necessário para envolver a plateia como Joe) e o roteirista (que se enrola em temas que não domina). Fracasso nas bilheterias e rejeitado nas premiações, A Lei da Noite fracassou justamente quando a Warner havia concordado a dar para Ben a direção de The Batman. Decepcionada a Warner voltou atrás - sem falar que no mesmo ano, o irmão de Ben, Casey Affleck, levou o Oscar de melhor ator por Manchester à Beira Mar (2016) e a comparação entre a atuação de ambos entrou em debate novamente. Tropeço artístico e pessoal, A Lei da Noite serve ao cineasta para lembrar que ele não deve brincar de reproduzir o que outros diretores já fizeram. Siga sua própria voz, Ben. Ela é mais forte do que você imagina.
A Lei da Noite (Live by Night/EUA-2016) de Ben Affleck com Ben Affleck, Sienna Miller, Brendan Gleeson, Chris Messina, Zoe Saldana, Chris Cooper, Elle Fanning e Matthew Maher. ☻☻
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