quinta-feira, 1 de março de 2018

PL►Y: Beatriz no Jantar


Sim, todo mundo só fala sobre o Oscar deste fim de semana, mas existe outra premiação importante  que acontecerá nos próximos dias - na véspera do careca dourado para ser mais exato. O Film Independent Spirit Awards já é tradicionalmente realizado no sábado que antecede a festa da Academia de Hollywood e, embora a maioria das pessoas não lhe dedique muita atenção, nos últimos anos existiu uma grande coincidência entre os ganhadores de Melhor Filme destas premiações. Moonlight (2016), Spotlight (2015), Birdman (2014) e 12 Anos de Escravidão (2013) ganharam ambos os prêmios, mas este ano, somente três filmes coincidiram entre o Independent e o Oscar (Me Chame pelo seu Nome, Lady Bird e Corra!) - e nenhum deles é favorito ao  grande prêmio da noite. Diferente do glamour e dos trajes de gala, o Independent ocorre perto da praia em Santa Monica, na Califórnia, e prestigia os filmes de baixo orçamento, produzidos e lançados longe dos holofotes dos grandes estúdios. Às vezes estes dois mundos se encontram, mas, geralmente, o que vemos nos indicados ao Spirit são artistas com bons trabalhos que ficaram fora do Oscar. Neste ano,  o trabalho de Salma Hayek é um belo exemplo disso. Faz tempo que a atriz foi indicada pela Academia por seu trabalho em Frida (2002), mas ano passado ela recebeu  muitos elogios por este Beatriz no Jantar, filme em que aparece sem maquiagem e ainda bela aos 51 anos. Dirigido por Miguel Arteta, o filme conta um dia na vida Beatriz (Salma), uma massagista holística que tem entre suas clientes a rica Kathy (Connie Briton) que ainda é grata por tudo que Beatriz fez para ajudar a família durante um terrível drama. Após um atendimento, o carro de Beatriz quebra na mansão de Kathy e, impossibilitada de voltar para casa, ela é convidada a permanecer na casa e jantar junto com a anfitriã e seus convidados. O que vemos a seguir são dois mundos que chocam instantaneamente. Do status quo com os excluídos.  Escrito por Mike White (em seu trabalho mais  multifacetado), existe a utilização de uma situação corriqueira para revelar o embate entre duas forças. Enquanto Beatriz percebe o mundo como um organismo onde todos devem conviver da forma mais respeitosa possível, ela se depara com um magnata, Doug (John Lithgow), que percebe o mundo como um lugar a ser explorado para expandir seus lucros pessoais, independente das consequências. Doug é milionário, mas é também corrupto, preconceituoso e um grosseiro com as pessoas que estão ao seu redor. Ainda que o roteiro evite mostrar que as discussões entre Beatriz e Doug como um confronto entre o bem e o mal, percebe-se ali o embate entre duas perspectivas de mundo bastante distintas. Fosse vivida por outra atriz, Beatriz não teria sua cota de excentricidades demonstrada com tanto despudor, da mesma forma, se Lithgow não fosse responsável por dar vida a Doug, não enxergaríamos o quanto suas ações mais questionáveis podem  ser naturalizadas sem maiores conflitos éticos. Arteta amarra o filme o quanto pode e aumenta a temperatura aos poucos, chegando até a um delírio que quase destoa do resto do filme (especialmente por evitar um final surpreendente, não por conta da violência, mas por conta do milagre que ele hesita em operar diante da câmera). Beatriz no Jantar pode até não ser um filme muito exuberante, mas toca em algumas feridas atuais com sutileza, humor e até certa elegância. 

Beatriz no Jantar (Beatriz at  Dinner/EUA-2017) de Miguel Arteta com Salma Hayek, John Lithgoe, Connie Briton, Chloë Sevigny e Jay Duplass. ☻☻☻

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