Portman: mistério que vem do espaço.
Alex Garland depontou como estrela literária em 1996 com o lançamento do romance A Praia. Na época a maioria dos críticos se derreteram de amores pelo jovem escritor que já começava a ser sondado pelo cinema quando Danny Boyle comprou os direitos de adaptação para o cinema (que virou um filme irregular com Leonardo DiCaprio). Com o lançamento de seus livros seguintes, The Tesseract (que virou filme estrelado por Jonathan Rhys-Meyers) e The Coma (que foi adaptado para o teatro) o firmaram como um dos maiores talentos literários do Reino Unido. Quando lançou o seu terceiro livro, Garland já estava envolvido com o cinema, especialmente na escrita de roteiros de ficção-científica, que aos poucos demonstrou ser o seu gênero favorito. Para além dos bons trabalhos com Boyle (Extermínio/2002 e Sunshine/2007) e Mark Romanek (Não me Abandone Jamais/2010), Garland queria mais, tanto que estreou na direção com o ótimo Ex-Machina (2015), que levou para casa o Oscar de melhores efeitos especiais e rendeu a Alex sua primeira indicação ao Oscar de roteiro original. Quando vemos seu novo trabalho, Aniquilação, percebemos que ele queria ainda mais. Pena que o estúdio resolveu vender o filme para a Netflix por considerar que ele não teria grande apelo nas bilheterias (provavelmente com medo do que houve com o elaborado Blade Runner 2049 , que foi amado pela crítica e um fracasso nas bilheterias). O diretor detestou a ideia, mas o estrago já estava feito. Ao vermos o filme sempre fica a impressão de como aqueles planos abertos e os efeitos especiais ficariam na telona, além da trilha sonora esquisita que parece ter sido composta em outro planeta. O filme é baseado na obra de Jeff VanderMeer e conta a história de uma bióloga, ex-militar chamada Lena (Natalie Portman) que se envolve na exploração de um estranho fenômeno chamado de O Brilho que ocorre na designada Área X. Ela se oferece para participar do grupo após conhecer a psicóloga e líder do projeto, a Drª Ventress (Jennifer Jason Leigh) e suas parceiras, a paramédica Anya (Gina Rodriguez), a física (uma melancólica Tessa Thompson) e a geologista Cass (Tuva Novotny). A área se tornou um grande enigma não apenas pela ausência de comunicação naquele local, mas também pela incompreensão dos fenômenos e transformações que acontecem por ali. Existe um mistério constante no ar, já que Garland emoldura com uma narrativa lenta de tensão crescente, além de um visual que provoca estranhamento pelo uso do horror e das cores. A direção de arte utiliza tons e formas florais de uma forma que nunca foi vista antes neste tipo de filme, mesclando podridão e beleza. Existe uma aura de infecção durante todo filme - e se você não entende, não se preocupe, a ideia é essa mesmo, provocar, instigar, estranhar. É verdade que a montagem que embaralha a temporalidade de Lena não ajuda muito, pelo contrário, até desmonta o que poderia ser um dos mistérios do filme, mas não vou contar aqui. Existe também um certo contraste pelo fato dela precisar lidar com o desaparecimento do marido e a revelação que acontece no final, aspectos que dão à personagem uma complexidade que funciona bem, mas que coloca as coadjuvantes em desvantagem de um desenvolvimento menos elaborado. Existe também o desfecho totalmente viajante e me lembrou os devaneios visuais de Kubrick ao final de 2001 - Uma Odisseia no Espaço (1964) - e se você achou que no final existe algum furo, vale a pena rever o filme e ver que ele está redondinho. Aniquilação mistura ficção científica, com suspense cósmico e existencialismo, desenvolvendo uma ideia bastante cerebral sob o verniz de fantasia.
Aniquilação (Annihilation/Reino Unido - EUA/2018) de Alex Garland com Natalie Portman, Tessa Thompson, Oscar Isaac, Jennifer Jason Leigh, Gina Rodriguez e Tuva Novotny. ☻☻☻☻
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