Damon e Jason: brilhante ideia num filme irregular.
Com o crescimento da população mundial, os recursos terrestres se tornam cada vez mais escassos, colocando em risco a própria existência da humanidade. Por conta disso um cientista norueguês cria uma das maiores descobertas da história da humanidade: um método capaz de diminuir o ser humano e fazê-lo não apenas ocupar menos espaço, mas também consumir menos por conta de suas necessidade diminutas. Por depender de menos recursos e despesas, os rendimentos de um indivíduo pode lhe garantir uma vida confortável inimaginável anteriormente. Este estilo de vida começa a seduzir cada vez mais as pessoas, assim como o casal Paul (Matt Damon) e Audrey (Kristen Wiig), que começa a pensar ainda mais na ideia quando um casal amigo (vivido por Jason Sudeikis e Maribeth Monroe) aderem ao processo chamado Downsizing. Em busca de uma nova vida, Paul decide se diminuir, mas, logo depois tem uma surpresa desagradável que diminui (também) seu ânimo pela sua nova realidade. Nesta primeira parte, o filme de Alexander Payne consegue ser bastante envolvente ao construir uma realidade fantasiosa, com suas regras próprias e características bastante específicas, mesmo quando começa a abordar como aquela existência de maiores recursos pode ser bastante ilusória frente à felicidade que promete. Paul não fica feliz, pelo contrário, sente-se mais solitário e numa situação ainda mais desconfortável. Payne mergulha aqui num humor surreal que nunca apareceu em seus filmes, embora tenha um humor bastante semelhante aos de seus primeiros trabalhos (os ótimos Ruth em Questão/1996 e Eleição/1999) está infinitamente distante de seus trabalhos mais recentes (como o aclamado Nebraska/2013). Ainda assim, todos os filmes do diretor são unidos por um olhar bastante astuto pelo estilo de vida americano em suas promessas de enriquecer, ser bem sucedido e rico. O problema de seu novo filme está na segunda parte, quando Paul conhece o outro lado desta realidade em miniatura, repleta de imigrantes, pobreza e pessoas marginalizadas que são diminuídas contra sua vontade por governos autoritários, ou seja, na prática, o mundo não mudou tanto assim. Se trata do outro lado de uma mesma ideia, no entanto, o resultado soa bastante desengonçado e irregular. Pequena Grande Vida parece então ser a mistura de duas abordagens diferentes de um mesmo tema, dois filmes misturados em um só e de costura um tanto apressada. Embora a segunda parte apresente alguns personagens interessantes, como o vizinho espertalhão Dusan Mirkovic (Christopher Waltz) e a imigrante vietnamita Ngoc Lan Tran (Hong Chau, indicada ao Globo de Ouro de atriz coadjuvante), o desenvolvimento deles permanece quase o tempo todo preso à caricatura. A transição do filme do humor absurdo para o tom mais críticos não funciona, soando quase como um pastiche de sátira social bem intencionada. A mudança de tom fica visível na atuação de Matt Damon, que perde a energia gradualmente até o final, onde o inevitável se aproxima. Pequena Grande Vida padece, ironicamente, pela sua grande pretensão, de querer ser dois filmes em um. Talvez fosse melhor ter optado entre ser um ou outro.
Pequena Grande Vida (Downsizing/EUA-2018) de Alexander Payne com Matt Damon, Kristen Wiig, Hong Chau, Christopher Waltz, Jason Sudeikis, Udo Kier, Rolf Lassgård e James Van Der Beek. ☻☻
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