quarta-feira, 7 de março de 2018

CICLO DIRETORAS: Miss Stevens

Miss Stevens e seus alunos: a dura arte de crescer. 

Ouvi falar do filme Miss Stevens por acaso no meio das matérias sobre os indicados ao Oscar deste ano que transbordaram nas últimas semanas. O matéria era sobre atuações marcantes dos indicados que provavelmente ninguém viu. O citado em questão era o Timothée Chalamet, indicado ao Oscar de Melhor Ator por Me Chame Pelo seu Nome que aqui recebe destaque como o problemático Billy, um menino que tem dom para atuação e que está, provavelmente, apaixonado pela professora que dá nome ao filme. Miss Stevens é a jovem professora de Literatura de uma escola americana que recebe a tarefa de levar três alunos para uma competição de arte dramática no fim de semana em outra cidade. Assim, ela terá que conviver mais de perto com Margot (Lili Reinhart), Sam (Anthony Quintal) e o introspectivo Billy (Chalamet). A viagem tem lá seus contratempos, mas o que interessa é como a proximidade faz com que Miss Stevens baixe a guarda e comece a se revelar mais como Rachel do que como a professora de todos os dias na escola. Ela fala palavrão quando fura o pneu do carro, comenta travessuras de sua adolescência em uma escola conservadora, bebe quando está numa festa e até flerta com um homem casado. A postura da professora deixa seus alunos um tanto confusos, especialmente quando a própria professora precisa lembrar a si mesma que por mais que esteja próxima daqueles adolescentes ela é a adulta responsável por eles naqueles três dias. O mais interessante do filme é apresentar que se os três alunos são seres em construção, a própria protagonista ainda precisa aprender a lidar com a vida adulta, especialmente após uma perda que ainda não conseguiu superar. O filme torna-se interessante justamente por ela tentar ajudar seus alunos a superarem seus desafios quando ela mesma não sabe muito bem o que deve fazer, mas segue em frente tentando acertar. A ideia rompe completamente com aquela velha imagem de professor redentor tão comum em vários filmes. Miss Stevens é tão humana quanto seus alunos e, por isso mesmo, torna-se interessante. O filme dirigido pela estreante Julia Hart é bastante simpático e fácil de assistir, ao mesmo tempo carrega o encanto de mostrar aqueles personagens tentando fugir dos papéis que lhe cabem no ambiente escolar. Assim, Margot torna-se capaz de generosidade insuspeitas, Sam é bem menos seguro do que se imagina e Billy... mostra-se o personagem mais interessante da história. Seu interesse por Miss Stevens está sempre no olhar, no sorriso e nas tentativas de fazê-la se afastar do papel de professora. É neste embate entre o distanciamento e a identificação que um sente pelo outro que o filme se torna mais interessante. Talvez se estudassem na mesma escola, Billy e Rachel fossem amigos e até vivessem um romance pelas afinidades que possuem, mas com a distância de pouco mais de uma década a situação complica, mas a diretora trabalha esta situação com bastante leveza e sobriedade. Ajuda muito também o fato de Billy saber canalizar seus problemas para o palco com uma energia invejável (a cena em que ele se apresenta com um trecho de Um Bonde Chamado Desejo é arrepiante e mostra que Chalamet tem tudo para fazer bonito em Hollywood). Julia Hart pode até não aprofundar demais os conflitos de seus personagens, mas consegue realizar um filme simpático e bastante sincero, capaz de crescer em nossas mentes após a cena final. Sua estreia transita entre comédia e drama com facilidade - e me faz querer saber qual será seu próximo projeto atrás das câmeras. 

Julia Hart

Miss Stevens (EUA-2016) de Julia Hart com Lily Rabe, Timothée Chalamet, Lili Reinhart, Anthony Quintal, Oscar Nuñez e Rob Huebel. ☻☻

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