quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Na Tela: Custódia

Léa e Denis: relacionamento abusivo. 

No início de Custódia vemos um casal diante de uma juíza num embate sobre  a custódia do filho mais novo - a primogênita já é maior de idade e já deixou claro que não quer contato com o pai, mas o destino do pequeno Julien (Thomas Gioria) ainda é um tanto incerto. O menino até escreveu uma carta em que argumenta que gostaria que o pai jamais se aproximasse deles novamente, no entanto, a advogada de Antoine (Denis Ménochet), argumenta o quanto a criança pode ter sido influenciada pela mãe e como aquele homem sente falta do filho. Diante da juíza, a ex-esposa de Antoine, Miriam (Léa Druker) é discreta e visivelmente preocupada com o que pode acontecer diante do veredito. A cena é longa, bem dirigida e a montagem transparece a exata medida da tensão que perpassa a relação daquele casal, exibindo também que algumas questões permanecem ocultas. São estas que conduzem o filme quando ele se ampara no drama para ganhar forma de suspense. Diante da logística que Miriam organiza para evitar contato com Antoine, percebemos que os fins de semana do pai com Julien serão uma porta de entrada forçada para a vida de Miriam - e teremos certeza do quão agressivo e abusivo Antoine pode ser. Em seu filme de estreia, o francês Xavier Legrand demonstra pulso firme com um retrato da realidade de muitas mulheres que evitam denunciar os abusos sofridos no casamento. A angústia dos personagens transborda da tela e para construir esta atmosfera o trabalho dos atores é fundamental. O grandalhão Denis Ménochet é uma bomba relógio e consegue dosar cada momento do personagem rumo ao descontrole absoluto - e o efeito de sua atuação é ampliada ainda mais pela vulnerabilidade do prodígio Thomas Gioria, um ótimo ator mirim que carrega a densidade de um menino que tenta evitar um desastre cada vez que vê o pai por perto. A atriz Léa Druker também consegue dosar as ambiguidades de sua personagem, que nunca sabe muito bem como agir diante do ex-marido, embora o roteiro não lhe ofereça muito a dizer, ela consegue dar corpo e alma à personagem de forma bastante realista. O único problema é Mathilde Auneveux, que vive a filha mais velha do casal, a personagem está um tanto alheia a tudo o que acontece (mas o problema talvez seja do próprio roteiro e não da atriz), mas este é um pequeno tropeço num filme que se sustenta muito bem ao longo de seus noventa minutos. Custódia foi concebido inicialmente como um curta-metragem premiado chamado Avant que de tout Perdre (2013),  estrelado pelo mesmo casal de atores. O curta funcionou tão bem que foi indicado ao Oscar de curta-metragem e agora se tornou um longa de respeito. Custódia recebeu o prêmio de Melhor Estreia no Festival de Veneza2017, assim como o prêmio de melhor diretor do Festival. 

Custódia (Jusqu'à la garde / França - 2017) de Xavier Legrand com Denis Ménochet, Léa Druker, Thomas Gioria, Mathilde Auneveux e Florence Janas. ☻☻☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário