quinta-feira, 13 de setembro de 2018

PL►Y: Gabriel e a Montanha

Gabriel: humano em suas contradições. 

O economista Gabriel Buchman estava prestes a cursar o doutorado nos Estados Unidos quando decidiu concretizar o sonho de conhecer o continente africano. Sua justificativa era subir montanhas famosas do continente. O ano era 2009 e, após ficar dezenove dias desaparecido, o corpo de Gabriel foi encontrado sem vida, abrigado debaixo de uma rocha. Na época o rapaz foi retratado como um herói, mas sob a ótica do cineasta Fellipe Barbosa (amigo de infância de Gabriel), ele é apresentado como alguém cheio de contradições e, por isto mesmo, interessante. Gabriel (vivido por João Pedro Zappa) era um rapaz rico e inteligente que se afastou de todo mundo para se aventurar por um território desconhecido com sua mochila e sandálias de pneu. Particularmente não gosto da primeira parte do filme, especialmente pela distância que existe entre o que Gabriel diz e o que ele faz (e o registro quase documental torna ainda mais difícil perceber o jogo que o diretor está construindo), mas a coisa melhora quando aparece Cris (Caroline Abras), a namorada de Gabriel. No encontro entre Cris e Gabriel percebi que tudo que o que me incomodava no personagem era propositalmente construído, afinal, por mais que negue, Gabriel não é mais do que um turista que mantém o seu distanciamento do universo que o cerca. Em alguns momentos ele é tão cheio de si que se torna incapaz de notar o quanto se julga superior às pessoas que estão ao seu redor - sobretudo os seus guias locais. Isto não significa que Gabriel seja um personagem insuportável, pelo contrário, torna-se mais humano e curioso por estar cego diante da imagem que construiu para si mesmo (e sua reflexão sobre estudar a pobreza do terceiro mundo com doutorado em Los Angeles é só um indício de que algo não se encaixava). É verdade que em alguns momentos o roteiro fica frouxo e existem aquelas cenas que parecem improvisadas, mas Fellipe Barbosa mantem o domínio da jornada do protagonista de forma bastante emocional. A simpatia de Zappa torna fácil compreender o fascínio que Gabriel provocava nas pessoas e a opção por colocar diante das câmeras as pessoas que cruzaram o caminho dele nesta jornada (que também colaboram com depoimentos em off) torna o filme ainda mais real perante o retrato que constrói. Com belas paisagens valorizadas pela fotografia, o filme não deixa de ser uma jornada de autoconhecimento, ainda que o protagonista não perceba isto.  

Gabriel e a Montanha (Brasil/França - 2017) de Fellipe Barbosa com João Pedro Zappa, Caroline Abras e Alex Alembe. ☻☻☻

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