domingo, 2 de setembro de 2018

CICLO VERDE E AMARELO: Ação Entre Amigos

Zé Carlos e seus amigos: sabor de vingança. 

Lançado há vinte anos, Ação Entre Amigos, o segundo filme do cineasta paulista Beto Brant precisa ser redescoberto. O mais interessante é que todo mundo ainda comentava o êxito de Os Matadores (1997), quando o diretor retornou aos cinemas com outro filme de baixo orçamento, enxuto e envolvente e desta vez tocando em um dos episódios mais delicados da história de nosso país: a ditadura militar. No entanto, quando Beto lançou seu segundo filme, ele não poupou a plateia dos horrores da tortura e do desaparecimento de civis envolvidos na militância, mas também não apresentou uma visão romanceada da postura dos militantes, o que gerou um tanto de polêmica e críticas para o diretor, no entanto, a história escrita por Marçal Aquino permanece envolvente e até atual por explorar como as feridas daquele período continuam mal cicatrizadas, simuladas por uma fina camada de pele que nunca expõe por completo as mazelas daquele período - e o resultado nós podemos ver nas eleições polarizadas que se aproximam. Se nos apegarmos ao que vemos na tela, o filme parece pronto para gerar debates e discussões sobre isso ou aquilo, mas se pegarmos o que está nas entrelinhas, o que temos é a ideia de que a violência não é capaz de gerar nada além de mais violência (e aqui ela está em ambos os lados, embora com intenções diferentes). Ação Entre Amigos é em sua essência um filme de vingança sobre um grupo de senhores ex-militantes que já foram prisioneiros políticos repletos de más lembranças daquela época, mas que nos dias atuais se deparam com o paradeiro do homem que os torturou por vários meses. Quem descobre o paredeiro do torturador é Miguel (o bom Zé Carlos Machado quando adulto), que com contados no meio político percebe que a morte de um certo Corrêa (Leonardo Villar) pode ter sido simulada para que pudesse viver em paz, longe dos fantasmas do passado. Miguel ainda tem contado com seus companheiros de militância, Elói (Caca Amaral), Paulo (Carlos Meceni) e Osvaldo (Genésio de Barros), mas terá que convencê-los a partir em busca do antagonista do quarteto. Enquanto o tempo presente transcorre, somos apresentados a alguns flashbacks que apresentam o passado dos personagens, passado que alguns tentam esquecer no novo rumo que suas vidas seguiram, no entanto, diante das perdas que sofreu, Miguel é irredutível em encontrar o homem que mudou o rumo de sua vida para sempre. Ação Entre Amigos não poupa seu grupo de amigos de conflitos, numa espécie de reflexo do Brasil sobre um efeito ainda anestesiado pela anistia dos envolvidos de um lado e do outro - que deixou a História ainda mais escondida num inquietação que ganha bom reflexo no filme. Beto Brant borra as verdades dos personagens e revela que ela é bem mais complicada de lidar do que um primeiro olhar é capaz de explicar. Curto e de narrativa urgente, o filme pertence à época que Brant ainda era um diretor cheio de energia, antes de se aventurar por histórias mais românticas e intimistas. A trilha sonora de André Abujamra tem ótimos momentos (especialmente na abertura e na cena final) e revela o quanto cinema nacional retornava com fôlego nos anos 1990! Vinte anos depois, a história em que mocinhos e bandidos oscilam e se misturam entre memórias e traições ainda faz de Ação Entre Amigos um filme interessantíssimo e melhor do que muito filme que se considera politizado no século XXI. 

Ação Entre Amigos (Brasil/1998) de  Beto Brant com Zé Carlos Machado, Rodrigo Brassoloto, Cacá Amaral, Carlos Meceni, Genésio de Barros, Melina Anthís, Sergio Cavalcante, Herberson Hoerbe, Douglas Simon e Leonardo Villar. ☻☻☻☻

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