Arian: olhando para o alto.
Exibido no Festival de Cannes do ano passado, Lua de Júpiter dividiu opiniões pela abordagem que cria a partir de um tema atual: os refugiados. A começar pelo título - a tal lua se chama Europa, a única capaz de abrigar vida (e curiosamente neste ano, Júpiter que já era recordista em número de luas rendeu a descoberta de outras doze, num total de setenta e nove satélites naturais em sua órbita). O título metafórico fez com que algumas pessoas entendessem que a ideia era uma afirmação preconceituosa sobre os outros continentes não serem capazes de abrigar vida, uma interpretação bastante preguiçosa diante da analogia proposta à esperança de milhares de imigrantes que buscam melhores condições e abrigo no velho continente (ainda que o filme deixe claro que a situação lá também pode ser bem difícil). O título também serve para oferecer as cores fantásticas que o diretor húngaro Kornél Mundruczó precisa para contar a história de um jovem imigrante que, ao tentar entrar na Hungria ilegalmente, é baleado e recebe o poder miraculoso de voar. Entretanto, o que poderia fazer de Aryan (Zsombor Jéger) um super-herói, dá espaço à angústia do rapaz reencontrar o pai que se perdeu na travessia da fronteira. Para isso, Aryan vai a um campo de refugiados em Budapeste e conhece Stern (Merab Ninidze), médico responsável pelo campo - e que facilita a entrada ilegal no país através do recebimento de propinas, mas que percebe na habilidade figura de Aryan a chance de ganhar mais dinheiro. Outra figura importante na história é o policial de fronteira Lászlló (Gyorgy Cserhalmi), que nem sempre cumpre o seu trabalho como deveria... não deixa de ser curioso que entre burocracias e hipocrisias, Aryan receba uma aura quase divina entre os demais personagens, há quem até o chame de anjo durante a história (afinal, ao invés de morrer ele passou a flutuar) e agregue conotações religiosas à sua existência enquanto o mundo ao seu redor mergulha no caos (e uma ameaça terrorista que aparece na história ressalta mais ainda esta sensação). Ao optar pelo realismo fantástico em um assunto tão sério, Kornél Mundruczó demonstra mais uma vez ser um cineasta de mão cheia. Assim como vimos em seu filme anterior, Deus Branco/2014 (outro com título controverso) ele demonstra bastante habilidade com uma câmera. O filme possui uma tensão envolvente e uma certa urgência que cresce ao longo da história, principalmente na relação que se instaura entre Stern e Ayra. Kornél utiliza bons ângulos e movimentos de câmera bastante eficientes na condução da história, além do bom uso dos efeitos especiais nos voos de Aryan, que são fascinantes em seu realismo bem mais contemplativo do que os vistos anteriormente no cinema - que contrasta com alguns movimentos vertiginosos bem empregados. Lua de Júpiter pode não alcançar todas as notas que deseja, mas utiliza a fantasia para inserir um milagre dentro de um mundo cada vez mais descrente e intolerante.
Lua de Júpiter (Jupter Holdja / Hungria - Alemanha - França / 2017) de Kornél Mundruczó com Zsombor Jégerm, Merab Ninidze, Gyorgy Cserhalmi e Mónika Balsai. ☻☻☻☻
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