sexta-feira, 7 de setembro de 2018

CICLO VERDE E AMARELO: Eu Sei que Vou te Amar

Fernanda e Thales: deliciosa discussão de relação. 

Atrevo-me a dizer que Eu Sei que Vou Te Amar é o filme mais conhecido de Arnaldo Jabor, aproveito também para arriscar que tem o seu melhor texto a ser levado para uma tela de cinema. Este foi o seu sétimo longa-metragem e guardava algumas semelhanças com o seu filme anterior (Eu Te Amo/1980 estrelado por Sonia Braga e Paulo Cesar Pereio) e também se tornou sucesso de bilheteria ao contar a história de um jovem casal, que recém separado, se reencontra e começa a lavar a roupa suja dentro de um apartamento. Na pele do casal estão Fernanda Torres e Thales Pan Chacon, que parecem bem a vontade com o texto que oscila entre o drama e a comédia com maestria. Os diálogos ainda são saborosos e demonstram como os fantasmas de uma relação ainda são muito semelhantes aos pobres mortais mais de trinta anos depois. Questões como desejo, infidelidade, inseguranças e sexo perpassam o roteiro a todo instante em um ritmo ágil embalado por uma montagem perfeita que busca o realismo ao mesmo tempo que o trai em vários momentos. Jabor exibe uma câmera bastante dinâmica, que persegue seus personagens como se fosse os olhos do espectador invadindo a privacidade do casal - e ainda utiliza closes e flashbacks para desvendar um pouco mais daquela relação desgastada ao longo do tempo, além de driblar uma certa teatralidade. Fernanda Torres tinha vinte anos quando fez o filme e seus olhos enormes  estão tão expressivos que lhe valeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes naquele ano. É fascinante como ela tritura as palavras do texto de uma forma bastante real, mesmo que saibamos que não existe casal travando diálogos tão geniais enquanto discutem a relação. O que poderia ser apenas uma recaída do casal, parece uma espécie de terapia, onde os dois trocam acusações sobre aquela união. Thales Pan Chacon também está muito bem, consegue ser sedutor e vulnerável sem fazer muito esforço, além do diretor saber como utilizar seu físico atlético - e habilidades de bailarino (sim, ele era bailarino e coreógrafo também) - em meio aos delírios de algumas cenas, pena que nunca mais o ator recebeu um personagem tão interessante em sua carreira (e faleceu em 1997 aos 40 anos). A química entre Fernanda e Thales é irresistível e consegue alcançar todas as notas que precisam entre os tons desta produção que marcou época. Quando vejo Eu Sei Que Vou Te Amar, penso como os anos 1980 conseguia criar roteiros tão inventivos em torno de um casal (outro exemplo é Sonho de Valsa/1987 de Ana Carolina), ousado e sem perder o fio condutor da história, detalhes como não nomear os personagens, torna a trama ainda mais universal. Embora seja ambientado em um apartamento durante toda a sua duração, a estética de Eu Sei Que Vou te Amar ainda impressiona, especialmente pelo trabalho de Oscar Nyemeyer na construção do cenário e as escolhas de Gloria Kalil para os figurinos. O filme é tão bem bolado que enxergo até uma relação com o fato de Jabor ter demorado vinte e quatro anos para lançar outro longa-metragem (desculpem, mas A Suprema Felicidade/2010 está muito distante de ser tão inesquecível quanto este aqui, mas acho que até Jabor não era mais o mesmo). Eu Sei Que Vou te Amar é um verdadeiro clássico do cinema brasileiro e que bem que merecia uma cópia restaurada para vermos numa telona.

Eu Sei que Vou te Amar (Brasil/1986) de Arnaldo Jabor com Fernanda Torres e Thales Pan Chacon. ☻☻☻ 

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