Branagh e seu elenco: nova versão de um clássico da literatura (e do cinema).
Na época do lançamento eu fiquei bastante curioso com o resultado desta nova versão do clássico livro de Agatha Christie - que já possui uma versão consagrada no cinema com direção de Sidney Lumet. Assassinato no Orient Express (1974) fez sucesso de público e crítica ao ponto de conquistar seis indicações ao Oscar (incluindo roteiro adaptado, ator/Albert Finney e atriz coadjuvante/Audrey Hepburn. O elenco era repleto de estrelas (contava ainda com Lauren Bacall, Ingrid Bergman, Jaqueline Bisset, Sean Connery, Anthony Perkins, Vanessa Redgrave...) e tinha aquela atmosfera de suspense carregada até chegar ao final enigmático. Esta nova versão também é cheia de estrelas, repleta de efeitos especiais e figurinos caprichados, mas infelizmente Kenneth Brannagh não é Sidney Lumet (mas... quem é?). Ele faz até um filme eficiente, mas que está bem longe de ser tão envolvente quanto a versão cinematográfica anterior. Percebe-se o cuidado com a produção (esteticamente ele enche os olhos) e a modernização da narrativa (especialmente na edição e movimentos de câmera), mas por pouco as peças que se encaixam não descambam para o melodrama. Brannagh também é responsável por encarnar o protagonista, o melhor detetive do mundo, Hercule Poirot (e dono de um dos maiores bigodes do cinema), tarefa que realiza com bastante coerência - especialmente no final, em que suas conclusões necessitam muito da autenticidade de sua interpretação. O diretor/ator está acompanhado de um elenco de respeito, com vários nomes consagrados (com Oscar e tudo) e artistas em ascensão revelados nos últimos anos, no entanto, o elenco soa até desperdiçado como passageiros suspeitos de ter cometido o que o título anuncia. Os depoimentos são apressados, o uso de flashback é excessivo e alguns desdobramentos são pouco aproveitados. Enquanto o livro costura (ou cria um emaranhado narrativo) os fios com habilidade, na tela, os depoimentos transformam o filme numa verdadeira colcha de retalhos um tanto desbotados - já que existe pouco destaque para a maioria do elenco. Obviamente que alguns se salvam, como Michelle Pfeiffer e os novatos Daisy Ridley e Noah Gad (confesso que sou cada vez mais fã dele), outros... não tem a mesma sorte (oscarizadas inclusive). O final se embola também um pouco mais do que devia, mas deixa espaço para que o detetive Poirot possa protagonizar outras versões de livros de Christie no cinema. Assassinato no Espresso do Oriente funciona como passatempo, mas se tiver a chance veja o filme de 1974 e entenda um pouco mais de minha decepção.
Assassinato no Expresso do Oriente (Murder on the Orient Express / EUA - Malta / 2017) de Kenneth Branagh com Kenneth Branagh, Michelle Pfeiffer, Judi Dench, Penelope Cruz, Willem dAfoe, Noah Gad, Johnny Depp, Daisy Ridley, Olivia Colman, Sergei Polunin e Tom Bateman. ☻☻
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