domingo, 17 de janeiro de 2021

#FDS: A Trincheira Infinita

 
Antonio e Belén: vidas em segredo. 

Terminando o #FimDeSemana com filmes latinos que disputam uma vaga na categoria de Filme Internacional no Oscar deste ano está o concorrente espanhol A Trincheira Infinita. A Espanha já concorreu ao prêmio de filme estrangeiro vinte vezes, levando a estatueta quatro vezes para o país e escolheu um filme de forte teor histórico para representa-lo no Oscar - quando muita gente achava que ousariam indicar o hit O Poço.  A Trincheira Infinita conta a história de Higinio Blanco (Antonio de la Torre), um militante contra o regime autoritário de Francisco Franco que vive décadas escondido em um buraco na parede de sua própria residência. A trama começa em 1936, no início da Guerra Civil Espanhola e termina somente em 1969 com a anistia política do país. Durante todo este período acompanhamos a rotina do protagonista ao lado de sua esposa, Rosa (Belén Cuesta eleita melhor atriz no Prêmio Goya), ambos sofrendo maus bocados para mantê-lo escondido. A casa é revistada várias vezes, um vizinho está sempre de olho para denunciar o esconderijo, Rosa sofre diversas agressões das autoridades e precisa obedecer uma série de regras para não levantar suspeitas. Durante as mais de três décadas em que a trama acompanha o casal, existem vários desafios que são enfrentados (incluindo uma gravidez) e retratados com uma narrativa cheia de tensão. Misturando drama e suspense, existem cenas impressionantes na primeira parte do filme (e ousadas cenas de sexo também), mas o mais interessante é como o filme consegue ser bastante envolvente em suas mais de duas horas de duração e consegue explorar os conflitos dos personagens ao longo do tempo, tanto do homem condenado ao exílio secreto dentro de casa quanto à esposa que renuncia novas possibilidades para ajudá-lo a se esconder por tanto tempo. As atuações de Antonio e Belén são ótimas e bastante complementares, já que que por vezes revelam nuances bastante diversas sobre aquela realidade, sem falar no esforço nas caracterizações que demonstram a passagem do tempo (um exemplo é o físico de Antonio que muda bastante com o passar da narrativa). A fotografia também é caprichada e deixa o tom claustrofóbico bastante realista para a plateia em seus pontos de luz e sombras. Outro ponto interessante é a direção dividida por três cineastas, Aitor Arregi, Jon Garaño e Jose Mari Goenaga, que conseguem trabalhar com uma coesão que muitas vezes um cineasta solitário não consegue apresentar. No entanto, se existe um problema com o filme é a falta de contextualização histórica para a trama. Os espanhóis não devem precisar de certos detalhes aparecendo na tela, mas quem não conhece a história da Espanha pode sentir falta de certas informações descritas acima. A passagem do tempo também pode render certo estranhamento, já que fica restrita à aparência dos atores e o crescimento do filho do casal, mas talvez a ideia seja embaçar a percepção do espectador. Outro detalhe interessante do filme é o uso de verbetes para separar a história em capítulos, que trazem um pouco de ironia para a densa narrativa. A Trincheira Infinita é um bom filme para quem curte História e conta uma realidade bastante comum durante a ditadura franquista, os chamados "toupeiras" viviam escondidos em buracos e o próprio retorno ao mundo exterior poderia render outro filme com a curiosidade que os minutos finais deste aqui desperta no espectador.  O filme está em cartaz na Netflix desde fevereiro do ano passado e vale lembrar que o serviço de streaming disponibilizou outros filmes que também disputam vagas na categoria de Melhor Filme Internacional como o taiwanês A Sun, o turco Milagre na Cela 7, o austríaco Quando a Vida Acontece e o mexicano Ya No Estoy Aquí que abriu este #FimDeSemana por aqui. 

A Trincheira Infinita (La Trincheira Infinita / Espanha - 2019) de Aitor Arregi, Jon Garaño e Jose Mari Goenaga com Antonio de la Torre, Belén Cuesta, Vicente Vergara, José Manuel Poga, Emilio Palacios e Antonio Romero. ☻☻☻

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