Jane (Julia Garner) é a assistente de um grande executivo há cinco semanas. Ela costuma fazer de tudo, tirar cópias, organizar a agenda do chefe, pedir sanduíches para os colegas de trabalho, atende telefone, agenda viagens, entregas de malotes, prepara café, organiza a mesa do chefe, responde e-mails, escuta desaforos ao telefone... para dar conta do trabalho, chega ao escritório antes de todo mundo (antes do sol aparecer) e sai por último. Ela também costuma trabalhar no escritório nos fins de semana e esperançosa das possibilidades que aquele emprego pode lhe trazer, pode se perceber que ela faz mais do que o necessário para ter seu trabalho reconhecido - embora receba mais indiferença e reclamações do que algum reconhecimento. Quando o reconhecimento parece surgir, ele é bem menos convincente do que um elogio protocolar. Esta rotina massacrante de um ambiente de trabalho é a matéria-prima do primeiro longa de ficção da diretora Kitty Green, que filma um dia de Jane com o mesmo estilo impresso em seus trabalhos em documentários (ela que dirigiu o chocante Quem é JonBenet/2017 no catálogo da Netflix), sendo assim, muito do envolvimento que o espectador possui com o filme é devido ao bom trabalho de Julia Garner no papel principal. A postura e a expressão da atriz deixam claro como aquele ambiente é torturante, embora pareça aceitar resignada tudo o que acontece ao seu redor. Existe um bocado de situações ofensivas e abusivas em torno da personagem, dos colegas que pedem sua atenção lhe jogando bolinhas de papel, a exclusão das conversas, as intromissões em seu trabalho, as reclamações, tudo ajuda a compor um cenário um tanto desolador, mas Jane se incomoda mesmo é com a chegada de um nova assistente - que a fará repensar se vale a pena continuar calada. O roteiro de Kitty Green é um primor de sutilezas, o que pode construir um retrato tenso e realista da situação abordada, mas também entediar um bocado o espectador que aguarda uma reação mais enérgica da protagonista diante daquele universo, no entanto, a intenção da diretora é outro ao terminar deixando claro que aquele ciclo pode permanecer por tempo indeterminado. Ainda que sua cadência possa gerar estranhamento, A Assistente é uma construção interessante e deve aparecer em algumas premiações indies, embora não tenha fôlego para chegar ao Oscar como muitos alardearam, mas vale conferir o filme no catálogo do Prime Video. Vale destacar que para além de seu trabalho na série Ozark (que lhe rendeu dois Emmys de atriz coadjuvante nos últimos anos), Julia Garner deve receber cada vez mais destaque em produções no cinema. Atuando desde 2010, quando tinha quinze anos de idade, ela continua sendo uma das mais expressivas de sua geração. Ainda com aparência de adolescente ela prova aqui que consegue carregar um filme nas costas com força e desenvoltura sem precisar falar muito em cena.
A Assistente (The Assistant/EUA-2020) de Kitty Green com Julia Garner, Owen Holland, Jon Orsini, Rory Kulz, Noah Robbins e Clara Wong. ☻☻☻
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