A consagrada Shonda Rhimes (de sucessos como Grey’s Anatomy, Scandal e How to get away with Murder) assinou um contrato milionário com a Netflix faz algum tempo e somente agora o primeiro fruto desta parceria estreou. Lançado no finalzinho de 2020, Bridgerton se tornou nas últimas semanas o programa mais visto da plataforma e tem tudo para render várias temporadas de sucesso, afinal, a base da série é a coleção de mais de uma dezena de livros criados por Julia Quinn. Para quem curte produções de época, sobretudo calcada na obra de Jane Austen, a série é um deleite, não apenas por ser ambientada na mesma época da cultuada escritora inglesa, mas também por ter ousadias em sua construção que evitam que caia na repetição pura e simples de uma fórmula do gênero. A começar pela carga de pimenta impressa pelo showrunner Chris Van Dusen, que explora de forma um tanto despudorada a vida sexual de seus personagens, mas sem perder o encantamento que atrai uma legião de fãs para este tipo de produção. Outro ponto são os figurinos exuberantes em cores e tecidos tão variados que dá ao programa uma identidade visual própria e de encher os olhos junto aos cenários caprichados. O terceiro ponto é a diversidade do seu elenco que insere atores negros interpretando personagens da corte inglesa da Rainha Charlotte (ela mesma vivida pela veterana Golda Rosheuvel) e o rei George III (James Fleet), o que parece um delírio chega a ser explicada em um diálogo da ótima Lady Danbury (Adjoa Andoh) com o duque Simon Basset (Regé-Jean Page), o galã da história que cai de amores por Daphne Bridgerton (Phoebe Dynevor), eleita pela rainha como a debutante mais interessante da estação de bailes e festas que compõem esta temporada. É o romance entre este casal que rende a trama principal inspirada no livro O Duque e Eu e obviamente que os fãs mais ferrenhos dos livros irão notar uma mudança aqui e outra ali, mas o andamento da história e o carisma dos personagens permanece ao longo dos oito episódios que compõem esta temporada que não enrola com o que tem nas mãos. Aqui somos apresentados à matriarca Violet Bridgerton (Ruth Gemmell) e seus quatro filhos e três filhas. Embora o maior destaque fique para Dafne, os seus cobiçados irmãos mais velhos Anthony (Jonathan Bailey), Benedict (Luke Thompson) e Colin (Luke Newton) também possuem histórias para contar. Entre romances proibidos, casamentos arranjados, enganações e traições existe ainda um jornalzinho escrito pela misteriosa Lady Whistledewn (na voz de Julie Andrews) que cria verdadeiro alvoroço com os segredos e alfinetadas que dispara entre os personagens (e mudando o rumo de vários acontecimentos). No entanto, não se engane,a série tem uma análise social bastante astuta sobre o período que retrata entre as suas fantasias: o desespero pelo casamento como sinal de status, a situação das mulheres que são capazes de perder toda a fortuna de seus pais por não ter um herdeiro homem na casa, o pavor da solteirice enquanto motivo de chacota, as fugas encontradas no casamento sem amor, a abafada busca por independência de algumas jovens, criando um resultando um painel bastante interessante sobre a situação da mulher, fator que já era pontuado nas entrelinhas dos romances de Jane Austen. Vale destacar que o elenco é um verdadeiro deleite, ainda com destaque para a Derry Girl Nicola Coughlan que está ótima como Penélope a filha caçula dos desesperados Featherinfton e apaixonada pelo espirituoso Colin, que está prestes a se meter em um verdadeiro escândalo. Com roteiro esperto, romances, suspiros, humor e um visual arrebatador, Bridgerton é uma grata surpresa que deve gerar fãs desesperados por novas temporadas ainda não confirmadas, mas calma galera... é só questão de tempo!
Os Bridgerton: material para umas treze temporadas. |
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