É engraçado como O Grande Lebowski (1998) dos irmãos Coen não foi um grande sucesso em sua época de lançamento, mas com o passar do tempo se tornou uma das obras mais populares dos manos (graças as reprises dos canais por assinatura e os comentários positivos que atravessaram décadas). Boa parte da graça do filme está no grupo de personagens interessantes (e hilários) que gravitam em torno do protagonista vivido por Jeff Bridges. Entre eles está Jesus Quintana (John Turturro), craque do boliche e dono de uma aura pervertida que o precede. Como se aquela roupa lilás, a arrogância e a sensualidade brega não bastassem, ele ainda tem aquele hábito bizarro de lamber a bola de boliche com a ponta da língua antes de lança-la. É uma destas criaturas tão estranhas que você já imagina querer conhecer mais sobre ela e, desde então, o ator John Turturro insistia em reviver o personagem em um spin-off. Como os irmãos Coen não estavam interessados em retomar este universo, depois de muito tempo eles resolveram autorizar o amigo a fazer o longa que tanto queria. Vai entender o motivo de Turturro usar o personagem para refilmar Corações Loucos (1974) uma comédia francesa de Bertrand Blier bastante antiquada para os dias atuais. A ideia reduz as referências ao cultuado filme em que conhecemos Jesus Quintana e temos que nos contentar com uma história que caminha não se sabe para onde em tom de comédia sexual sem graça inserindo personagens como uma prostituta experiente (Sonia Braga), uma cabeleireira que não consegue ter orgasmos (Audrey Tautou) e uma ex-presidiária que está louca para fazer sexo (Susan Sarandon). Houvesse um roteiro bem amarrado que reunisse estas personagens não haveria problema, mas ele inexiste. O filme começa com Jesus Quintana deixando a prisão após um ato indecoroso diante de uma criança, ele logo reencontra seu parceiro Petey (Bobby Cannavale) e nem o roteiro sabe explicar direito o tipo de relação que existe entre os dois. Eles começam a se meter em confusões, aplicar pequenos golpes e a relação de Jesus com o boliche é reduzida à uma cena e um comentário. É só isso. O filme é desengonçado e não tem muita graça, padecendo por se render a um texto que envelheceu mal. Apesar de ser mais conhecido como ator, Turturro já dirigiu oito filmes (o meu favorito é Amante a Domicílio/2014, este sim um filme que sabia explorar tabus sobre sexualidade) e parecia que o Quintana estava em boas mãos. Um grande engano. Desperdiçando um bom elenco, Turturro trai o personagem e faz justamente o que o título em português tenta negar (mas o resultado é uma daquelas obras que você assiste e deseja apenas esquecer).
Ninguém Brinca com Jesus Quintana (The Jesus Rolls / EUA - 2019) de John Turturro com John Turturro, Bobby Cannavale, Audrey Tautou, Susan Sarandon, Jon Hamm, Pete Davidson, Christopher Walken e Tim Blake Nelson. ☻
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