Neste primeiro #FimDeSemana do ano irei postar comentários sobre três filmes latinos que concorrem a uma vaga na categoria de Filme Internacional no próximo Oscar. Lembrando, como sempre, que 2020 foi um ano bastante atípico para o cinema e a maioria dos países preferiram guardar suas produções para reabertura das salas, mas alguns optaram por vender para serviços de streaming e ganhar algum espaço perante o público. Vale lembrar que 93 países se inscreveram para a categoria da próxima edição (e obviamente que já existem favoritos). O de hoje foi selecionado para representar o México e está em cartaz na Netflix desde maio do ano passado. Ya no Estoy Aquí conta a história de Ulisses (Juan Daniel Garcia Treviño) tem dezessete ano e torna-se líder de um grupo de adolescentes periféricos da cidade de Monterrey, localizada no nordeste mexicano. O grupo de Ulisses se chama Los Terkos e a identidade do grupo é demarcada pelas roupas, pelo corte de cabelo e um estilo construído como um verdadeiro conceito baseado no ritmo musical da cumbia. No entanto, existe uma rivalidade agressiva entre os grupos e os amigos de Ulisses acabam vítimas de uma situação que faz com que o rapaz fuja ilegalmente para os Estados Unidos. Lá sua rotina é outra e percebemos aos poucos sua luta para manter a identidade em outro país e a dificuldade em lidar com este outro universo. Esta mudança insere novas camadas na história conduzida de forma quase documental pelo cineasta e roteirista Fernando Frias que mergulha nos conflitos destes dois mundos. Embora tenha bons momentos e seja impregnado de uma valorização cultural e identitária da periferia mexicana, o filme precisava ser melhor lapidado. Tem algumas cenas que são difíceis de engolir (a cena das mortes é tão tosca que parece de mentira), além disso o protagonista é de uma apatia pouco envolvente a maior parte do tempo. Com câmera estática e atuações que parecem improvisadas, o filme deixa a impressão que o tema renderia um ótimo documentário. O que salva o filme é o uso da sonoridade, das cores e a sua parte final, que consegue fechar toda a trama com o tom certo de melancolia para que fique remoendo em nossa mente por algum tempo. O México tem uma história bastante curiosa com o Oscar, já que três de seus mais conhecidos diretores já foram premiados como diretores, Alejandro González Iñárritu tem duas estatuetas de melhor diretor (por Birdman/2014 e O Regresso/2015), Alfonso Cuarón também tem duas (por Gravidade/2013 e Roma/2018) e Guillermo Del Toro tem uma (por A Forma da Água/2017), mas das oito vezes em que o país foi indicado na categoria de Filme Estrangeiro só levou mesmo por Roma - que também foi produzido pela Netflix. Ya no Estoy Aquí não é apontado como favorito para ter uma vaga na disputa, mas pode até surpreender caso os votantes queiram fugir da mesmice.
Ya No Estoy Aquí (México/EUA - 2019) de Fernando Frias com Juan Daniel Garcia Treviño, Yesica Silva, Xueming Angelina Chen e Sophia Metcalf. ☻☻
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