quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

PL►Y: Possessor

 
Andrea: profissão problemática. 

Desde que foi exibido no Festival de Sundance no início do ano passado, Possessor ganhou fãs fervorosos. O filme sofreu com o fechamento das salas por conta da pandemia e acabou sendo exibido diretamente online por sua distribuidora, mas, ainda assim, se tornou o filme de terror mais falado do ano. É fácil entender o motivo, já que o filme de Brandon Cronenberg cria algumas das cenas mais perturbadoras do cinema recente. Se você é antenado em cinema já identificou o sobrenome do rapaz. Ele é filho de David Cronenberg e seu cinema carrega muito da atmosfera dos primeiros filmes do seu pai (só para lembrar Scanners/1981, A Mosca/1986 e principalmente Existenz/1999), se Brandon já demonstrava ter estilo em sua estreia com Antiviral (2012), aqui ele escancara de vez que não está afim de amenidades. O filme acontece em um tempo não identificado em que uma empresa presta serviços de assassinato a seus clientes (de forma que estes nunca respondam pelo crime que cometeram). Como eles fazem isso? Eles trabalham com implantes neurais em que uma pessoa possui o corpo da outra, faz o serviço e depois segue a vida normalmente. A responsável por possuir o corpo do executor do crime é Tasya Vos (a sempre ótima Andrea Riseborough), mulher serena, casada e com um filho, mas que começa a sentir as consequências de seu trabalho fisicamente e, principalmente, psicologicamente. Quando ela recebe um novo serviço a coisa se complica quando ela precisa comandar as ações de Colin Tate (Christopher Abbott), o problemático genro de um milionário. Dominar Tate não é tão fácil como ela pensa e nada sai como o esperado, mudando os rumos de sua vida de forma definitiva. Lendo assim parece até um bom episódio de Black Mirror (a famigerada série que em suas primeiras temporadas elevou o terror tecnológico a um nível que exige muito mais trabalho dos cineastas que se aventuram pelo gênero) e Cronenberg Jr até parece brincar com isso em sua primeira parte (tanto que até Andrea atuou em um episódio famoso da série: Crocodile na terceira temporada), mas quando chega na segunda promove um banho de sangue bastante gráfico e incômodo.  No entanto, mais interessante que os closes desagradáveis são os efeitos visuais feitos de forma bastante criativa que bebem diretamente no cinema experimental (sem falar naquela máscara de borracha horrenda que aparece no pôster do filme) que impressionam até o desfecho pessimista. A dupla Andrea e Abbott se sai muito bem em seus papéis complicados e fazem de Possessor um filme perturbador sobre o duelo de duas pessoas dentro de uma mente já perturbada. Possessor definitivamente não é para qualquer um, mas é um exercício imagético interessante. 

Possessor (Canadá/2020) de Brandon Cronenberg com Andrea Riseborough, Christopher Abbott, Jennifer Jason Leigh, Megan Vincent, Rossif Sutherland e Sean Bean. ☻☻☻ 

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