Antes de estrear no Amazon Prime Video, o filme I'm Your Woman era aguardado como a chance de ver Rachel Brosnahan entre as indicadas ao Oscar deste ano. No entanto, quando o filme estreou a temporada já tinha seus pesos pesados e suas chances diminuíram consideravelmente, o que não quer dizer que o filme não mereça atenção. Rachel ficou famosa (e premiada) por seu trabalho na série de comédia A Maravilhosa Srª Maisel e aqui prova que também merece um lugar na tela grande com uma atuação precisa em um personagem complicado. Complicado especialmente porque sabemos muito pouco sobre sua personagem, a Jean. Quando a conhecemos ela está pegando sol em seu quintal, com roupão, bebida, óculos de sol e jeito entediado. A história se passa nos anos 1970 e ela é apresentada dentro de um verdadeiro arquétipo dos filmes criminais desta década: a esposa do gangster. Estas personagens costumam ficar em segundo plano na história principal, mas aqui o destaque é todo dela. Quando seu esposo Eddie (Bill Heck) aparece pela primeira vez com um bebê nos braços e entrega à esposa como se fosse um presente, também sabemos muito pouco sobre ele, mas ficamos instigados sobre aquela realidade. Pouco se fala sobre o casamento dos dois até que Eddie não aparece mais e Jean é abordada por um desconhecido, Cal (Arinze Kené) que pede para que junte o que for essencial e fuja dali. Jean e o espectador não entendem muito bem o que está acontecendo, mas começa ali uma rotina de fugas que revela cada vez mais a realidade em que Eddie estava metido. Eddie é um criminoso e tudo o que sabemos é que algo saiu muito errado, colocando a vida de Jean e do bebê em risco, além de quem mais cruzar o caminho dos dois. É deste ponto de partida (que parece acontecer à margem da trama principal) que o filme se sustenta de forma bastante curiosa, acrescentando detalhes à sua história conforme a situação se complica e algumas surpresas surgem pelo caminho. Dirigido e escrito por Julia Hart (com colaboração no roteiro de seu esposo Jordan Horowitz), I'm Your Woman tem o mérito de nunca se contentar em ser apenas um filme marginal, lança um olhar curioso sobre a "o que aconteceu com a esposa do bandido?", além de tocar em algumas questões que tornam o recorte sobre uma personagem em uma trama interessante: a forma como ela lida com a maternidade, a questão de sobrevivência que a faz ter contato com o submundo habitado pelo esposo (e que sempre ignorou) e até as decisões corajosas que precisa tomar para sair desta situação. Entre momentos dramáticos e tensos, Rachel Brosnahan se sai tão bem como a diretora (o visual do filme é feito no capricho e a cena da boate é de uma precisão espetacular, aquele tipo de cena que dá vontade de voltar e assistir novamente várias vezes) e juntas alcançam o resultado de uma trama paralela que tem elementos suficientes para se tornar a trama principal. Para além de tudo isso, achei bem interessante a ambição de Julia Hart à frente do projeto, ela foi destaque no Ciclo Diretoras de 2018 aqui no blog com Miss Stevens (2016) e demonstra estar disposta a ser bastante eclética em seus trabalhos.
I'm Your Woman (EUA - 2020) de Julia Hart com Rachel Brosnahan, Marsha Stephanie Blake, Arinzé Kene, Frankie Faison, Jameson Charles, Justin Charles e Bill Heck. ☻☻☻☻
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