Kristen: vivendo um ícone do cinema.
Devo admitir que Kristen Stewart está cada vez mais dedicada em se tornar uma atriz respeitada. Mais criteriosa nos trabalhos que escolhe, a atriz que ficou famosa mundialmente como a insossa Bela da saga Crepúsculo (2008) já coleciona alguns filmes dignos de nota em sua trajetória. Seu trabalho neste Seberg Contra Todos lhe rendeu vários elogios e é fácil entender o motivo, ela apresenta um dos trabalhos mais sólidos de sua carreira e (graças aos toques do diretor Benedict Andrews) deixa de lado vários tiques histriônicos que deixam os críticos bastante irritados. Confesso que eu fiquei atento para ver a cena em que a moça iria escorregar na sua personificação da diva Jean Seberg, mas não existe momento em que ela comprometa o filme. O roteiro dos parceiros Joe Shrapnel e Anna Waterhouse apresenta um recorte do período mais conturbado da vida de Jean, ironicamente é o período logo após o auge de sua carreira virou musa da Nouvelle Vague do cinema francês nos anos 1960 (especialmente pela sua participação no clássico Acossado/1960 de Jan-Luc Godard. A americana foi elevada ao posto de estrela por seus trabalhos na França e ao aceitar um convite para voltar a filmar nos Estados Unidos, ela conhece militantes do grupo Panteras Negras e se envolve com a causa da luta pelos direitos civis na Terra do Tio Sam. Casada e com um filho, ela acaba se envolvendo com um dos líderes do movimento (Anthony Mackie) e chamando a atenção do FBI, que realizava um trabalho de vigilância para desmontar o grupo. Por ajudar financeiramente os Panteras, Jean começa a ser vigiada e perseguida, para logo depois ser difamada e tornar-se cada vez mais paranoica com o receio de ser grampeada, fotografada e filmada o tempo todo. Esta deterioração da psiquê de Seberg não é levada a sério pelos demais personagens, que consideram tudo um grande devaneio de uma estrela de cinema - mas ciente de que os efeitos da investigação são nocivos para a atriz, o agente Jack Solomon (Jack O'Connell) começa a questionar os limites éticos e as reais intenções do que é realizado em torno da atriz. É Jack que ainda consegue um pouco de destaque num filme que deixa seus coadjuvantes de escanteio para girar quase que o tempo inteiro em torno da figura de Seberg. Benedict Andrews costuma ser dedicado na condução de seus atores (basta lembrar o excelente trabalho que fez em Una/2016), mas o roteiro poderia dar mais atenção a alguns personagens que ficam pelo meio do caminho. Se você acha que Mackie e Zazie Beets aparecem pouco, o esposo de Seberg também nunca tem suas camadas desenvolvidas no decorrer da história - e nem vou mencionar o trabalho canastrão de Vince Vaughn como o agente malandrão. Este pouco caso com os coadjuvantes faz com que o filme perca a oportunidade de aprofundar vários temas importantes que são apenas jogados na trama (a revolução sexual, os direitos civis, as manifestações sociais do período...) e perde a oportunidade de se tornar um filme mais rico sobre o período histórico que aborda e que acaba salvo pelo trabalho de Kristen (nunca pensei em dizer isso e atrevo-me a dizer que existe uma identificação entre a atriz e a personagem, ambas eram incompreendidas no cinema americano e encontraram reconhecimento através de filmes cults europeus). Seberg Contra Todos não alcança todas as notas que ambiciona, mas não deixa de ser o resgate de uma estrela que merece ser lembrada.
Seberg Contra Todos (Seberg / EUA - Reino Unido / 2019) de Benedict Andrews com Kristen Stewart, Jack O'Connell, Anthony Mackie, Yvan Attal, Gabriel Sky, Vince Vaughn e Zazie Beetz.☻☻☻
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