Betty Gilpin: atirando para todos os lados.
Quando o trailer começou a ser exibido, A Caçada gerou tantas críticas que acabou sendo adiado. Entre seus críticos estava até o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Trump ressaltou a forma como o filme apresentava pessoas da "elite" se divertindo ao caçar cidadãos comuns nascidos em estados que costumam apoiar o partido republicano. A crítica também não viu com bons olhos este terror da Blumhouse com maior cara de sátira, mas o fato é que A Caçada embaça tanto a percepção sobre seus personagens que fica até difícil de dizer que ele toma partido de alguma coisa. A impressão que tive é que ele tem a pretensão de ser tão profundo quanto os comentários que lemos diariamente nas redes sociais - e isto, por pior que pareça, faz parte da brincadeira. Vi até comentários de que o filme era a versão americana do brasileiro Bacurau (2019), menos gente, menos... desculpe, mas para comentar tem alguns SPOILERS no caminho. O filme começa pelo meio com um grupo de pessoas sendo levadas para uma terra que ninguém sabe dizer exatamente onde é. Sim, são pessoas comuns que foram escolhidas por serem politicamente incorretas em redes sociais e são caçadas por um grupo de pessoas que consideram que matando aquelas pessoas o mundo se tornará um lugar melhor. É uma premissa tão absurda que não dá para ser levada a sério, mas que revela muito da arte do discurso do século XXI em que algumas atrocidades são permitidas desde que tenham uma causa (matar por exemplo). Dirigido por Craig Zobel (para entender melhor este aqui talvez seja uma boa ideia ver seu filme mais elogiado, Obediência/2012 em que um trote telefônico basta para que atrocidades sejam realizadas contra uma mulher), A Caçada reúne rostos famosos para pouco depois eleger como protagonista Crystal (Betty Gilpin da série Glow), que logo se destaca entre as caças. A trama é cheia de reviravoltas e surpresas, tem pessoas disfarçadas, imigrantes ilegais, exército, espiões, tiros, sangue, mutilação, sangue e mais sangue além de uma longa luta de Crystal com a ganhadora de dois Oscars Hillary Swank (que aparece só na última parte). A Caçada atira para todos os lados e no fundo é o retrato da banalização da vida humana em meio aos conflitos mal resolvidos, das relações polarizadas, do discurso de ódio alimentando mais ódio, da fetichização das armas, da falta de diálogo, dos preconceitos, do eu sou melhor que você... Enfim, o caos generalizado em que o mundo se encontra hoje motivou a criação de um filme elevado à condição de sátira política pelos que se doem de um lado e do outro (e acho que a ideia era esta mesmo). Ainda que possa mirar em um lado e acertar o outro (seja lá qual for), A Caçada pode agradar aqueles que entrarem no tom jocoso da narrativa, mas para outros será apenas uma bobagem para passar o tempo.
A Caçada (The Hunt / EUA - 2020) de Craig Zobel com Emma Roberts, Betty Gilpin, Hillary Swank, Amy Madigan, Ike Barinholtz, Macon Blair, Sturgill Simpson. ☻☻
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