Ben: dilemas pessoais emprestados para um personagem.
Ben Affleck tem lá a sua torcida para cravar uma vaga na categoria de melhor ator no Oscar deste ano por sua atuação neste O Caminho de Volta. É verdade que diante dos pesos pesados da temporada ele tem poucas chances, mas a campanha serve para chamar atenção para um filme pequeno que traz um bom trabalho do subestimado ator. No filme ele interpreta Jack Cunninghan (Ben Affleck), um operário da construção civil que tem problemas sérios com o álcool (e as primeiras cenas deixam isso bem claro, já que ele bebe em todas elas). Ele é convidado para treinar um time de basquete de um grupo religioso voltado para resgate de jovens em situação de vulnerabilidade social - o que pode ser um ponto de mudança em sua vida, mas ele ainda tem dúvidas se aceita a proposta. O convite surge por conta do passado de Jack, que foi um atleta promissor no colegial e por algum motivo sua carreira no esporte perdeu fôlego. Some isso ao fato de sua vida pessoal também não estar muito bem, principalmente por conta de uma tragédia familiar, e começaremos a entender os gatilhos encontrados no caminho que fazem da bebida seu verdadeiro refúgio. Dirigido por Gavin O'Connor o filme traz aquela marca de lidar de forma áspera com o drama, o que ajuda bastante para que Ben consiga compor um dos personagens mais marcantes de sua carreira, principalmente nas cenas em que precisa lidar com um time que deve melhorar muito sua auto-estima se quiser realmente ganhar algumas partidas. Embora os meninos do time não recebem muito destaque, existe uma boa energia nas cenas de treino e nas partidas. A coisa funciona tanto que é fácil se pegar torcendo pelo treinador e seus pupilos e estranhar um bocado quando a cena final acontece quando ainda falta meia hora de filme para acontecer. É nesta parte final que o filme quase se desconstrói da pior maneira possível. As situações se tornam mais melodramáticas e Jack caminha para o fundo do poço novamente. Ainda que se arrisque muito neste último ato, o diretor parece saber do que está fazendo, já que vício é coisa séria e qualquer recaída pode custar caro. Ben Affleck deve saber disso muito bem, já que há muito tempo a mídia acompanha seus problemas com o alcoolismo, aqui mesmo ele apresenta aquele imagem inchada e um certo cansaço, mas que ajudam a compor o personagem que ele quase perdeu por uma recaída (e que só não perdeu devido ao apoio da ex-esposa Jennifer Garner). Esta forma como Jack precisa lidar com seus fantasmas reflete muito de como Ben também tem os seus para exorcizar e devemos reconhecer que enfrentar um papel destes foi bastante corajoso por parte do ator que nunca se expôs tanto por um papel. Embora tenha duas estatuetas do Oscar em casa (roteirista por Gênio Indomável/1998 e produtor por Argo/2012), Affleck nunca foi reconhecido por seu trabalho como ator pela academia, o que se torna ainda mais curioso depois que seu irmão, Casey Affleck levou para casa o Oscar de Melhor Ator por Manchester à Beira Mar (2016). Curiosamente o personagem de Ben tem algumas semelhanças com o trabalho do mano, mas suas chances de ser indicado são pequenas. Pelo menos ele soma mais um bom trabalho no seu currículo.
O Caminho de Volta (The Way Back/ EUA - 2020) de Gavin O'Connor com Ben Affleck, Al Madrigal, Janina Gavankar, Michaela Watkins, Brandon Wilson, Ben Irving, Will Ropp e Brandon Wilson. ☻☻☻
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