Procurando um filme para assistir despreocupado, encontrei Depois A Louca Sou Eu, adaptação do livro biográfico de Tati Bernardi, estrelado por Débora Fallabella (que eu adoraria ver em mais filmes) e dirigido por Júlia Rezende. Sei que muita gente vai olhar torto para uma comédia em que existem momentos torturantes para a protagonista, mas vejo que o grande desafio do filme é encontrar este equilíbrio perigoso sem parecer ofensivo ou de mal gosto. Eu achei que a produção funciona muito bem com o que tem em mãos e confesso que me identifiquei em muitos momentos, especialmente com a ideia fixa de que tudo pode dar errado quando algo bom cruza o seu caminho. No entanto, a Dani (a protagonista) precisa de medicamentos para lidar com o que para muita gente seria normal e ainda procura terapias alternativas para exorcizar seus problemas. É neste ponto que o filme ganha contornos muito interessantes, abordando tanto as angústias quanto a sensação de tranquilidade, euforia ou até sensação alguma (através de medicamentos) vividas pela personagem. O filme faz questão de ser divertido, mas sem perder a mão quando a barra pesa (como aquela cena em que ela caminha e sente-se ridicularizada por todos os personagens, ou o momento em que tudo pareceu ter acontecido bem numa entrevista redentora e na verdade foi tudo um desastre em rede nacional). Entre as crises e problemas com a percepção da realidade (seja por conta própria ou por conta dos medicamentes), Debora Falabella realiza aqui mais um trabalho marcante em sua carreira no cinema brasileiro, conseguindo inserir camadas de humor e drama em uma personagem que poderia ter uma nota só e primar pela chatice diante da câmera, com seu trabalho, não vemos uma caricatura, mas uma pessoa com qualidades e conflitos. Também ajuda muito a edição esperta que faz graça com as mentiras que Dani conta ou cede às lembranças e, principalmente, intensifica as oscilações entre sentir-se bem e sentir-se muito mal. Outro detalhe que faz a diferença é que quando a trama parece enveredar pela comédia romântica, o faz de forma diferente, sem que um namorado seja a solução de todos os seus problemas, afinal o Gilberto (o excelente Gustavo Vaz que era parceiro de Débora na vida real e isso explica muito da química irresistível entre os dois) é psicanalista mas tem seus próprios dilemas para lidar quando o assunto é romance (ou a morte do pai que vai muito bem de saúde, obrigado). Depois A Louca Sou Eu consegue ser tão engraçado quanto angustiante e, boa parte deste mérito vem da sinceridade com que Tati Bernardi olha para a vida e para si.
Depois a Louca Sou Eu (Brasil/2021) de Julia Rezende com Débora Falabella, Gustavo Vaz, Yara de Novaes, Beatriz Oblasser, Débora Lamm, Rômulo Arantes Neto, Duda Batista, Elizângela, Evandro Mesquita e Cristina Pereira. ☻☻☻☻
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