Roy Halston se tornou um dos maiores nomes da moda mundial quando esta era dominada por nomes europeus. Nascido em Iowa no ano de 1932, seus planos sempre foram mais ambiciosos do que a realidade local poderia compreender. Ele ganhou fama quando a primeira dama Jaqueline Kennedy apareceu com uma de suas criações, o chapéu pillbox (aquele que parecia uma caixinha de base arredondada) e o tornou uma febre no mundo da moda. Outras criações fizeram a glória de Roy, como a criação do ultrasuede (um tipo de camurça que resistia à água), um badalado perfume de frasco exótico e toda uma coleção de roupas de costuras minimalistas, cortes precisos e uma leveza que proporcionava um movimento quase hipnotizante - e que caiu nas graças de Liza Minnelli que apelou para o estilista para melhorar seus figurinos no clássico Cabaret (1972). Você deve estar se perguntando o motivo de não ouvir falar muito de um nome que já foi tão badalado no mundo fashion... o motivo pode ser visto na minissérie da Netflix produzida por Ryan Murphy e protagonizada por Ewan McGregor (em momento inspiradíssimo). Apesar de ser um gênio no corte e na costura, Halston nunca foi muito bom em administrar os negócios, motivo pelo qual mesmo em tempos de enorme procura por suas criações, ele não conseguia dar conta da produção por não ter dinheiro para organizar a linha de produção. Este foi o motivo de aproximar-se cada vez mais das grandes lojas de departamento, algo visto com desdém por alguns, mas que garantiu financiamento para suas criações fora da caixa do mundo da moda. Li muitos comentários reclamando da forma como o personagem é apresentado como temperamental, arrogante, vaidoso, presunçoso e blábláblá mas, sinceramente: e daí? Ainda existem mortais que acreditam que a maioria dos grandes nomes do mundo da moda não são verdadeiras divas? Podem até dizer que esta parte do roteiro não acrescenta novidade alguma para o que se espera de um grande nome da moda e azar de quem acha que isso depõe contra o artista. Assim como a parte em que sua homossexualidade é abordada com a cara da liberação dos anos 1970 pós revolução sexual e antes da chegada da AIDS nos anos 1980. Quem acha que é um clichê, lamento informar, mas foi isso mesmo que aconteceu no período. Foi triste. Foi feio. Foi traumatizante e motivou discursos moralistas que perduram até hoje (e que a série apresenta de forma até muito discreta). Além disso, Ryan Murphy tem cacife suficiente para apresentar estes momentos sem parecer um julgamento de seu protagonista, ele é daquele jeito, goste dele ou não. Além disso, Ryan teve a ótima ideia de escalar o escocês Ewan McGregor para personificar o estilista com todos os predicados que ele merece, sendo impossível não se comover com os momentos em que a vida sai do controle junto com sua vida profissional. Atrevo-me a dizer que se fosse um filme, McGregor poderia ser indicado ao Oscar pela primeira vez, como não é, os prêmios de TV já tem um grande nome na disputa de melhor do ano (e ele é seguido de perto por Krysta Rodriguez que pode não ter o jogo a ginga de Liza Minelli, mas capta a essência da estrela com precisão). Depois da irregularidade das suas últimas produções da Netflix, Halston mostra-se um grande acerto. Acho que nem precisa comentar a exuberância visual da série que já se tornou uma marca de Murphy (se Murphy acertou este detalhe até mesmo o claudicante Ratched/2020, imagina o que ele não faz em torno de um ícone da moda americana?). Halston é tão envolvente que pode ser visto todo de uma vez, como um grande filme.
Halston (EUA-2021) de Daniel Minahan com Ewan McGregor, Rebecca Dayan, Krysta Rodriguez, Rory Culkin, Sullivan Jones, Regina Shcneider e Vera Farmiga. ☻☻☻☻
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