Xavier e Daniel: dois amigos e um beijo.
Alçado ao posto de garoto prodígio por seu primeiro longa-metragem (premiado em Cannes) quando tinha apenas vinte anos de idade, Xavier Dolan já beirava os trinta anos quando resolveu filmar este Matthias e Maxime e ouso dizer que ele tentou fazer algo diferente do que vimos dele até aqui. Embora a homossexualidade esteja presente na história (como em 99% dos filmes do cineasta), ele tenta aqui contar a história de uma forma mais contida, sem utilizar os maneirismos que lhe rendem críticas desde que começou sua carreira atrás das câmeras. A ideia é bastante simples: dois amigos de longa data são convidados a participar de um curta-metragem de uma amiga e precisam lidar com uma cena de beijo durante a produção. Se existe uma certa tensão antes e um preparo sutil para aquele momento, nada se compara ao que acontece com os personagens depois disso, afinal, eles começam a repensar não apenas a relação existente entre os dois como também os rumos de suas vidas a partir dali. A adolescência já se despediu dos dois e se Matthias (Gabriel D'Almeida Freitas) tem uma vida profissional promissora e está prestes a se casar, Maxime acha que partir para outro país é o melhor caminho para seguir sua vida - especialmente pelo relacionamento complicado com a mãe dominadora. Entre familiares e amigos, estão presentes o peso das expectativas sobre os dois, as piadinhas desagradáveis, infantilidades e a dificuldade de dizer o que se sente quando as emoções saem do controle e revelam o que antes estava escondido até de si mesmo. O roteiro do próprio cineasta desenvolve-se pelas bordas, o que pode incomodar a maioria dos espectadores que esperam desdobramentos mais explícitos daquele beijo diante da câmera (e que não é mostrado pelo diretor, num dos cortes mais odiados do cinema recente, mas que deixa claro que o objetivo do filme não é explorar o beijo em si, mas os desdobramentos dele). No entanto, o filme é prejudicado pela sua longa duração, que se estende meia hora mais do que deveria. Apesar de fazer cinema já há mais de uma década, Dolan ainda tem problema com os cortes do seus filmes e isso o colocou em sérios problemas quando partiu para seu filme realizado anteriormente, o ambicioso Vida e Morte de John F. Donovan/2018 que teve problemas com seu corte de quatro horas e a distribuição (mesmo tento nomes badalados como Kit Harington, Natalie Portman, Jacob Tremblay, Susan Sarandon e Jessica Chastain - que acabou fora do corte final). Sua primeira experiência com Hollywood parecia ter vindo na hora certa, já que seu longa anterior (o áspero É Apenas o Fim do Mundo/2016) lhe rendeu o César de melhor direção e veio logo depois de dirigir o clipe Hello de Adele. Mais pop do que nunca, o tombo com seu projeto hollywoodiano o fez retornar para o Canadá, filmar com os amigos, ter um roteiro despretensioso nas mãos e deixar de lado suas invencionices. Embora por vezes o filme soe estar numa camisa de força, os atores principais apresentam trabalhos sensíveis que valorizam um texto que está longe de ser original, penas que os outros personagens não tem muito desenvolvimento na história. No entanto, o diretor sabe criar bons momentos como a cena do lago, a cena do espelho e da ventania, no entanto, este é o filme menos Xavier Dolan já realizado.
Matthias e Maxime (Matthias et Maxime / Canadá - 2019) de Xavier Dolan com Gabriel D'Almeida Freitas, Xavier Dolan, Anne Dorval, Pier-Luc Funk e Samuel Gauthier. ☻☻
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