Anna Fox (Amy Adams) sofre de agorafobia. Sair de casa para ela é uma verdadeira tortura. Ela costuma conversar com o ex-marido (Anthony Mackie num papel minúsculo) que ficou com a guarda da filha depois que o casamento foi desfeito. Ela tem contato com poucas pessoas em sua rotina, um deles é o terapeuta (Tracy Letts bom ator e reconhecido dramaturgo que assina o roteiro desta adaptação do livro de AJ Finn) e o outro é David (Wyatt Rusell), o rapaz misterioso para quem alugou o porão para ganhar uns trocados. Presa dentro de casa a maior parte do tempo, Anna consome muitos remédios, e garrafas de bebida alcoólica, tento como maior diversão assistir filmes clássicos na televisão até adormecer e olhar a vizinhança através da janela. Eis que um dia ela percebe que tem novos moradores no apartamento em frente e acaba se aproximando da recém chegada vizinha (Julianne Moore) e seu filho (Fred Hechinger). Os dois com posturas bastante diferentes e marcadas pelo relacionamento com o patriarca da família (Gary Oldman). Tendo estas peças postas no filme, Anna acredita ter testemunhado um crime e a trama escancara de vez sua referência com o clássico Janela Indiscreta (1954) de Alfred Hitchcock. Dirigido por Joe Wright, seria uma maldade quase covarde comparar os dois filmes. Hitch é inimitável, mas Joe já provou em várias de suas obras anteriores que tem talento suficiente para filmar, tomando cuidado com os cortes, os planos, enquadramentos, ritmo, uso de cores, sobreposição de imagens (as de Anna com com os filmes que assiste são bastante interessantes), sem ter medo de por vezes usar até recursos teatrais como se a história se passasse num palco. Com um diretor destes, craque em adaptações literárias (entre elas Orgulho e Preconceito/2005 e Desejo e Reparação/2007), e um elenco deste quilate nada poderia dar errado. Ou pelo menos até que o estúdio inventasse de fazer sessões de teste de audiência e retalhar o filme todo, alterando completamente o tom, especialmente de sua reta final com sabor de pastel de vento estragado. Wright não escondeu a surpresa com a reação negativa ao corte original de seu filme e ficou bastante frustrado em ter que mexer em sua obra o deixando um tanto desengonçado perante a total desistência de investir nas ambiguidades da história pautada na percepção de sua protagonista. O resultado é que o filme que começa bem e cheio de possibilidades termina beirando o desastre. Depois de sabotarem o filme, venderam para a Netflix que o colocou entre os mais assistidos (apesar das críticas negativas). Um aspecto do filme vale um comentário especial é sua atriz principal: Amy Adams. Não é fácil carregar seis indicações ao Oscar e nenhuma vitória, além da expectativa de todo projeto poder ser aquele em que será finalmente lhe render o reconhecimento da Academia. Amy é uma ótima atriz, mas seus últimos dois filmes devem ter feito soar o alarme de sua agente, afinal, este ao lado de Era Uma Vez um Sonho de Ron Howard (ambos em cartaz na Netflix) foram adaptações promissoras que saíram pela culatra. Sorte que Amy tem crédito (mas até quando?).
A Mulher na Janela (The Woman in the Window/EUA-2021) de Joe Wright com Amy Adams, Gary Oldman, Julianne Moore, Fred Hechinger, Wyatt Russell, Tracy Letts e Jennifer Jason Leigh. ☻☻
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