Não é fácil uma comédia figurar em listas de melhores filmes do ano, especialmente quando se fala da crítica especializada. Pois Palm Springs conseguiu esta façanha e, não satisfeito com as duas indicações ao Globo de Ouro (melhor filme e melhor ator, de comédia, claro...), o filme levou para casa o Independent Spirit de Melhor Roteiro de Estreia (e os produtores fizeram grande campanha para aparecer no Oscar de roteiro original, mas ficou de fora). O ponto de partida de Palm Springs bebe na fonte do clássico Feitiço do Tempo (1993) e, assim como todos os outros que vieram depois, tenta inventar novos caminhos para a trama de um protagonista que fica preso no mesmo dia. No entanto, aqui existem alguns elementos que conferem um diferencial à produção. A começar pelo início que revela aos poucos o que está acontecendo para depois explicar que qualquer pessoa pode ficar preso naquele dia se fizerem uma determinada coisa que o descolado Nyles (Andy Samberg) fez. Assim, se torna quase um efeito colateral que ele não passe por esta experiência sozinho - e ainda tem que lidar com a revolta dos demais que se veem nesta maldição de loop temporal. Obviamente que o fato de estar preso no mesmo dia para sempre já o fez antecipar as ações de todos os outros personagens "normais" (que aqui estão às voltas com a festa de casamento da irmã de sua namorada), além de ter experiências variadas com as possibilidades infinitas que o dia lhe oferece e render-se ao cansaço de ter que lidar com tudo aquilo de novo inúmeras vezes. A ideia que insere novas possibilidades numa ideia já gasta partiu do diretor Max Barbakow, deixando o roteiro por conta de Andy Siara (da elogiada série Lodge 49) que capricha em momentos engraçados, inusitados e surreais, inserindo até um vilão na trama (vivido por J.K. Simmons) e uma mocinha (Cristin Milioti) que tenta desvendar os segredos daquela sandice. Obviamente que o filme também tem alguns momentos de baixaria, mas estes não chegam a incomodar, o que incomoda mesmo é quando o filme se enrola mais do que devia ao tentar subverter o loop e deixa o tom engraçado de lado. Depois da temporada de prêmios e seus filmes com temáticas sérias e pesadas, Palm Springs é um refresco que diverte e nos faz pensar um pouco em todas as possibilidades que um dia pode oferecer. O longa pode até não se tornar um clássico como a fonte de sua inspiração, mas rende boas risadas.
Palm Springs (EUA-2020) de Max Barbakow com Andy Samberg, Cristin Milioti, JK Simmons, Peter Gallagher, Camila Mendes, Tyler Hoechlin e Meredith Hagner. ☻☻☻☻
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