Mélanie: angústia quase solitária. |
Tenho alguns problemas com filmes pautados em atores solitários em um verdadeiro tour de force. A coisa também complica quando o filme é ambientado em somente um cenário, mas isso um diretor esperto pode contornar com os artifícios que ainda podem ser utilizados para alavancar a narrativa. Também ajuda se o roteiro não infla demais a história e depois murcha gradativamente jogando fora tudo o que construiu até então. Parece simples, mas as armadilhas são muitas. É preciso ser envolvente, ter uma tensão crescente, uma dinâmica imagética fluente e um texto competente para dar suporte o artista que tem em mãos. Ou seja, não é uma tarefa fácil, mas também não é impossível. O elogiado Oxigênio que entrou em cartaz na Netflix consegue se sair bem nestes critérios, a começar por ter Mélanie Laurent (a eterna Joshana de Bastardos Inglórios/2009 de Tarantino) no centro da história. Na trama ela acorda dentro de uma câmara criogênica e não faz a mínima ideia de como foi parar ali. Ela também não lembra quem é, sua história ou para onde vai. Na maior parte do tempo interage com a Inteligência Artificial responsável por zelar por sua segurança dentro da câmara. Vale ressaltar que enquanto busca por respostas, suas conversas, emoções e reações afetam diretamente o consumo da quantidade limitada de oxigênio daquele recipiente - e pode até gerar a sua morte. É interessante como para o roteiro se desenvolver revelando sempre mais sobre a história de sua personagem, ela corre cada vez mais riscos. Conforme ela consegue se comunicar com outros personagens e redescobre um pouco mais de sua história, o diretor utiliza flashbacks para ilustrar suas memórias e o filme começa a preparar algumas surpresas para o espectador que cria suas próprias teorias enquanto assiste ao filme. Lá pela última meia hora algumas revelações mudam bastante o contexto do filme e insere aspectos de cinema catástrofe. Oxigênio é um exercício interessante, tem um belo trabalho de luzes em sua fotografia que o torna bonito visualmente, além de dar a chance de Mélanie ser mais uma vez lembrada pelo seu talento (é inexplicável como os produtores parecem não ligar muito para ela). Mas voltando às armadilhas que citei neste tipo de filme, pode assistir despreocupado, o filme não murcha em sua reta final, apenas ousa ao ir além do que o espectador pode esperar.
Oxigênio (Oxygène / França - EUA / 2021) de Alexandre Aja com Mélanie Laurent, Malik Zidi e Laura Boujenah e Marc Saez. ☻☻☻
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