Sigourney e Kevin: o sexo nunca mais foi o mesmo.
Dia desses fiquei surpreso que eu ainda não havia feito a postagem de um dos meus filmes favoritos do Ang Lee, eis então que tomei vergonha na cara e resolvi escrever assim que possível. Tempestade de Gelo, é o filme (baseado no livro de Rick Moody) que foi indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes e saiu de lá com o merecido prêmio de melhor roteiro. Assim como os seus melhores trabalhos em língua inglesa, o diretor taiwanês se beneficia muito de seu olhar estrangeiro sobre a cultura de outro país e constrói uma narrativa calcada nas sutilezas das relações humanas. Aqui ele tem um cenário mais do que especial, já que a história acontece em 1973 no confortável subúrbio de New Canaan, em Connecticut, período em que os moradores experimentam os efeitos da revolução sexual. A tradicional festa de Ação de Graças está chegando, mas o clima não está para comemorações na casa dos Hood, Benjamin (Kevin Kline) e Elena (Joan Allen) parecem cada vez mais distantes. Some isso ao crescimento dos filhos e a ebulição hormonal da adolescência e este universo só se amplia, afinal, enquanto Paul (Tobey Maguire) está interessado em uma colega da escola (Katie Holmes), sua irmã, Wendy (Cristina Ricci) mostra-se bem mais curiosa e ousada, ao explorar os interesses que dois meninos demonstram por ela. Mikey (Elijah Wood) e Sandy (Adam Hann Byrd) são filhos de um casal de amigos dos Hood e não fazem a mínima ideia de que Benjamin tem um caso com a mãe deles, a insatisfeita Janey Carver (Sigourney Weaver). Neste contexto, resta ao pai, Jim Carver (Jamey Sheridan) nunca saber muito bem o que está acontecendo em casa. O apreço aos detalhes cai como uma luva diante das possibilidades que a trama apresenta, sempre deixando nas entrelinhas a intensidade e a fragilidade daquelas relações, merecendo destaque os diálogos saborosos de uma inspirada Sigourney Weaver que solta verdadeiras pérolas para o amante, seguida de perto da postura quase cientificamente exploratória de Wendy perante os meninos da vizinhança. No meio de tudo isso o que prevalece é a sensação de que a grande maioria dos personagens adultos precisaram compreender as mudanças que a sociedade estava atravessando, enquanto os mais jovens absorviam as novas referências com uma rapidez impressionante. Se existe uma cena bastante emblemática no filme é a antológica festa da chave, que despertou arrepios e discussões na plateia. O desconforto dos casais presentes transborda da tela e algumas revelações importantes finalmente vem à tona. Mas não pense que o filme é sisudo ou pesadão, com citações às revistas em quadrinhos, piadinhas visuais e um humor um tanto sarcástico sobre as hipocrisias abaixo da casca de perfeição do Tio Sam garantem ao filme um raro equilíbrio. Neste segundo filme feito em língua inglesa (o primeiro em solo americano), Ang Lee capricha também na melancolia de um mundo em transformação e enfatiza a perda da inocência como um verdadeiro choque de realidade aos personagens ao final da sessão. Apesar de não ter aquele final fechadinho que se espera, o filme funciona por deixar claro que as mudanças não pararam por ali na vida daquelas pessoas. Embora tenha ótimos trabalhos do elenco, somente Sigourney Weaver recebeu algum reconhecimento por sua atuação (levou o BAFTA de atriz coadjuvante), mas Kline e Joan Allen também possuem trabalhos marcantes ao lado dos atores mirins que estavam começando a procurar papéis de gente grande no cinema. Grande filme.
Tempestade de Gelo (The Ice Storm / EUA - 1997) de Ang Lee, com Kevin Kline, Joan Allen, Sigourney Weaver, Cristina Ricci, Tobey Maguire, Elijah Wood, Adam Hann Byrd, Jamey Sheridan, Henry Czerny, Allison Janney e Katie Holmes. ☻☻☻☻☻
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