segunda-feira, 14 de junho de 2021

PL►Y: Quo Vadis, Aida?

 
Aida (Jasmila Zbanic): dores de uma tragédia anunciada. 

Desde que foi exibido na disputa ao Leão de Ouro no último Festival de Veneza, o longa Quo Vadis, Aida? se tornou um daqueles filmes tão comentados que se torna praticamente impossível não ter vontade de vê-lo. Some isso às indicações aos prêmios de filme estrangeiro que concorreu no Oscar e no BAFTA e a curiosidade só cresce ainda mais. No entanto, o bom mesmo, é que o filme da diretora Jasmila Zbanic (indicada ao BAFTA de melhor direção) é realmente impressionante. O filme conta as horas que precederam o aterrorizante massacre de Srebrenica, um dos momentos mais sangrentos da guerra civil iugoslava, marcada pelos conflitos entre países do Leste Europeu que perdurou de 1991 até 2001. Vale ressaltar que a narrativa do filme acontece durante os ataques da Sérvia à Bósnia e Herzegovia, cujas tropas promoviam um verdadeiro genocídio étnico após a Bósnia proclamar independência em 1992. A trama do filme é ambientada três anos depois, na cidade de Srebrenica que está prestes a ser invadida pelos Sérvios. É bom destacar este contexto histórico, já que o filme não se preocupa em contextualizar historicamente o que se vê na tela, para a emoção que a diretora pretende despertar em seus espectadores, basta saber que existe um grupo enorme de pessoas que deixam seus lares temendo por suas vidas e buscam abrigo na base da ONU. O que move todo o filme é a angústia do drama humano que transborda de uma tragédia anunciada. Conduzindo a narrativa está Aida (Jasmila Zbanic), a protagonista do filme, que teme por tudo o que pode acontecer perante o caos que se instaura no país, mas teme, principalmente, pela vida de sua família. Trabalhando como intérprete da ONU, ela transita entre os refugiados e as autoridades, sofrendo por ver os rumos dos acontecimentos sem poder fazer muita coisa perante o que acontece diante dos seus olhos. Aos poucos o local que deveria transmitir segurança se torna uma verdadeira bomba relógio, com acordos políticos surgindo aqui e ali, fermentando a permissividade de quem deveria protegê-los e que se tornam cúmplices de uma tragédia. A atriz Jasna Djuricic está perfeita como Aida, ela se comporta feito uma verdadeira leoa enjaulada, aos poucos sua angústia cresce perante a impotência que se revela implacável. O trabalho de Jasna é fundamental para que o filme alcance o nível que o trabalho da direção almeja: ser urgente, cru e numa linguagem quase documental (que é o formato dos primeiros trabalhos da diretora). Jasmila Zbanic filma como se estivesse dentro de uma panela de pressão e faz doer ao encaixar aqui e ali cenas de um passado próximo em que os inimigos eram vizinhos e amigos de longa data. Se terminasse naquela cena desoladora do pátio o filme seria perfeito, mas ele se estende um pouco mais e não era necessário. Ainda que seja um retrato de um período histórico recente de um país distante, o ódio disseminado pela política de "nós versus eles" mostra-se bastante próximo quando vemos até onde a sandice humana pode ir. 

Quo Vadis, Aida? (Bósnia e Herzegovina | Áustria | Romênia | Noruega | Alemanha | Polônia | França | Noruega | Turquia - 2020) com Jasna Djuricic, Izudin Bajrovic, Boris Ler, Johan Heldenbergh e Raymond Thiry. ☻☻

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