Vanessa e Katherine: sem esperar o mundo que está por vir.
Chamar o drama romântico de época The World to Come de Um Fascinante Mundo Novo é uma baita propaganda enganosa em terras brasileiras. A começar que no original em inglês o filme tem o bom senso de não empregar adjetivos para para "o mundo que está por vir" (que seria o nome em tradução fiel), cabe ao espectador imaginar como este mundo seria. É verdade que ao nos envolvermos com a história das duas protagonistas desejamos que elas vivessem em um mundo bem melhor do que o que as cerca. O título original faz alusão à uma promessa religiosa que não conforta a protagonista diante do que vivencia. Ela é Abigail (Katherine Waterston), mulher que vive com o esposo, Dyer (Casey Affleck) em um ambiente bucólico nos anos 1850 e bastam os primeiros minutos da narrativa para percebermos que ela é bem mais complexa do que aparenta. Com ambições diferentes do que se esperava de uma mulher na época, soma-se à insatisfação de Abigail as dores de um casamento que mergulha cada vez mais na frieza, principalmente após a morte de sua única filha. A morte da menina paira feito um fantasma sobre o casal e, se alguma vez a rotina da personagem teve alguma graça, ela foi embora junto ao luto da maternidade. Solitária em seus afazeres, a coisa melhora quando um casal de vizinhos se muda para as redondezas. Se Finney (Christopher Abbott) é bastante soturno, sua esposa, Tallie (Vanessa Kirby) é o oposto de tão luminosa. Ela logo percebe que a melancólica Abigail pode ser uma excelente companhia naquelas redondezas. Com os encontros cada vez mais constantes, a afinidade entre as duas cresce e ganha contornos de romance proibido, numa intensidade que pode gerar problemas junto aos esposos que começam a perceber que existe algo mais entre as duas mulheres. O segundo filme de Mona Fastvold não tem pressa em desenvolver sua história, segue num ritmo lento, sutil e melancólico, mas belamente amparado pelas locações e os trabalhos marcantes de suas duas atrizes (convenhamos que os seus respectivos parceiros não fazem nada do que já não fizeram em trabalhos anteriores). Se Katherine retoma aqui o caminho promissor de quando chamou atenção em Vício Inerente (2014) é Vanessa Kirby que rouba a cena como uma mulher intensa, de olhos e sorrisos incendiários capaz de sacudir todas as convicções de sua amante - e portanto torna-se uma grande ameaça para a sociedade marcadamente masculina. Pode se dizer que em meio à pandemia Vanessa Kirby teve um excelente ano em 2020! Afinal, saiu premiada como a melhor atriz do Festival de Veneza por Pieces of a Woman ao mesmo tempo em que apareceu em Veneza com a atuação marcante neste outro filme que poderia facilmente ter lhe rendido uma indicação ao Oscar de atriz coadjuvante. Embora o filme caminhe para um desfecho desolador, The World to Come consegue enviar sua mensagem de que o mundo mudou, mas ainda não o bastante perante o que se faz necessário e urgente.
Um Fascinante Mundo Novo (The World to Come / EUA - 2020) de Mona Fastvold com Katherine Waterston, Vanessa Kirby, Casey Affleck, Christopher Abbott e Karina Ziana Gherasim. ☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário