Kate: tediosa premonição. |
Quando vemos Amy (Kate Lynn Sheil) pela primeira vez temos a impressão que ela já não está bem há algum tempo. Solitária e melancólica, durante os primeiros minutos do filmes somos apresentados ao tom desolador de seus últimos dias, afinal, logo o letreiro e as declarações de Amy deixarão clara a forte sensação de que ela morrerá no dia seguinte. Ela não sabe dizer muito bem o motivo desta espécie de premonição, mas de alguma forma ela pressente de que a morte está cada vez mais perto. Ela comenta sua angústia com Jane (Jane Adams), que aos poucos passa a ter a mesma sensação e torna-se capaz de transmiti-la para quem se aproxima dela. Assim, como se fosse uma doença contagiosa, a diretora Amy Seimetz constrói seu filme e roteiro com um grupo de personagens que começam a temer a morte iminente. O medo do fim da vida é algo bastante recorrente no cinema, mas em nenhum filme ele foi construído de forma tão direta e simplista (principalmente por conta da cadência irregular impressa pela diretora), muito por conta das várias oportunidades em desenvolver as personagens que o filme abandona pelo caminho. Se a postura de Amy indica que ela tenha um histórico de depressão ou crises de ansiedade (o que se torna presente nos diálogos), estes aspectos nunca recebem muito destaque na construção da história. Embora o filme emoldure a angústia de Amy com uma edição fragmentada, costurando momentos diferentes da personagem com outras que parecem retiradas de um filme experimental e o uso curioso de luzes coloridas na fotografia, as cenas de Amya sempre emperram a narrativa. Muito mais interessante é Jane (muito também por conta da excelente Jane Adams, grande atriz que nunca recebeu o devido reconhecimento desde que foi revelada em Felicidade/1998 de Todd Solondz) que não entende muito bem o que está acontecendo e extrai todas as potencialidades cômicas que esta trama inusitada pode render (e que poderiam ter sido mais exploradas ao longo da sessão). Algo me diz que Jane poderia render um bom filme sozinha ao contaminar todos os convidados de uma festa tediosa e que demonstra que o elenco é esforçado, mas o roteiro não ajuda muito. Embora tenha uma ideia interessante, Ela Morre Amanhã não consegue desenvolvê-la em toda a sua potencialidade, deixando várias possibilidades pelo caminho e pagando o preço de levar-se a sério demais - o que não impediu que este apesar do seu baixo orçamento e atmosfera indie, o longa ganhasse notoriedade durante a pandemia por conseguir retratar a sensação de vulnerabilidade conjugada à paranoia de que a morte está próxima. No entanto, enquanto filme, ele poderia ter galgado muito mais do que realmente tenta alcançar.
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