Casey e Anna: mundo sem mulheres.
Acho que aquele momento em que Casey Affleck levou para casa o Oscar de melhor ator por Manchester à Beira-Mar (2016) entrou para a história como uma das maiores saias justas da cerimonia, afinal, Casey acabava de ser acusada pela forma abusiva como tratou algumas atrizes durante a filmagem do bizarro Eu Ainda Estou Aqui (2010) estrelado por Joaquin Phoenix. O resultado foi que ele levou o prêmio para casa com certo constrangimento sem receber os aplausos da militante Brie Larson que lhe entregou o prêmio de cara amarrada. Por mais que apresente argumentos e se desculpe, a imagem do ator nunca mais foi a mesma. Prova disso é que o efeito do Oscar em sua carreira é praticamente nulo. Logo depois daquele momento complicado ele lançou seu segundo filme como diretor, A Luz no Fim do Mundo, a história de um pai (Casey Affleck) e uma filha (Anna Pniowky) que vagam por um mundo pós-apocalíptico em que uma vírus letal exterminou as mulheres. Assim, a humanidade contempla a sua extinção e a missão deste pai é proteger aquela que talvez seja a última criança do sexo feminino a nascer. Ciente dos perigos que a menina corre em um mundo habitado por homens pouco confiáveis, eles vivem escondidos a maior parte do tempo, a apresentando como menino aos estranhos que aparecem no caminho. O filme é perpassado por vários diálogos que parecem construídos para que Affleck peça desculpas pelo seu mal comportamento com as mulheres em seu set de filmagem, pontuando aqui e ali falas que ecoam a forma como a imprensa lidou com as denúncias que sofreu. Como ator ele apresenta um bom trabalho, assim como a menina Anna Pniowsky que é bastante carismática durante os longos diálogos que trava com seu parceiro de cena. Porém, se existe um problema no filme é justamente as longas conversas entre pai e filha, que nem sempre são conduzidas de forma interessante, mantendo a câmera parada e o tom monocórdio de Affleck a maior parte do tempo (e a fotografia pouco atrativa também não ajuda ao cansar a vista rapidamente). Apesar da premissa interessante de sobrevivência (que em alguns momentos me pareceu uma versão do excelente A Estrada/2009 de John Hillcoat) torna-se bastante irregular em sua execução, talvez por conta da pouca experiência de Casey atrás das câmeras (afinal, este apresenta a mesma dificuldade de manter o ritmo que seu filme anterior). Lá pela reta final o filme realmente cresce em tensão quando a dupla se abriga na casa de velhinhos e o que era adiado finalmente acontece. A Luz no Fim do Mundo tem uma ideia interessante, mas padece com um diretor que confiou demais no próprio taco e na disposição das pessoas fazerem a leitura que seu filme guarda com sua vida pessoal.
A Luz No Fim do Munto (Light of My Life / EUA-2019) de Casey Affleck, com Casey Affleck, Anna Pniowsky, Tom Bower, Elisabeth Moss, Thelonius Serrell-Freed e Tommy Clarke. ☻☻
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