Modak: perseguindo um sonho que vive fugindo. |
Apesar da assinatura ilustre de Alfonso Cuarón na produção e dos prêmios conquistados no Festival de Veneza (mehor roteiro, prêmio da crítica e o Golden Osella), o filme O Discípulo é um longa tão discreto que passa até despercebido no catálogo da Netflix. O filme é tão discreto que até destoa do colorido e do ritmo que costumamos ver nas produções indianas. Falado totalmente em Marathi e dirigido por Chaitanya Tamhane, o filme conta a história de Sharad (Aditya Modak), um rapaz que dedica-se desde pequeno a se tornar um cantor de música clássica indiana. No entanto, apesar de toda dedicação ao treinamento, ele começa a perceber que talvez lhe falte os dotes vocais necessários para alcançar o patamar de seu mestre (Aru Dravid) - a quem serve com devoção absoluta. No entanto, o filme opta a não verbalizar as limitações do protagonista num massacre constante, mas deixar que a plateia perceba as dificuldades dele para se equiparar aos grandes cantores da modalidade em seu país. Basta ficar atento aos tropeços quando ele solta a voz, nas correções e comentários que surgem aqui e ali quando ele se apresenta. No entanto, Sharad é obstinado e acredita que um dia ele terá seu talento plenamente lapidado e reconhecido, até que um certo cansaço comece a cair sobre seus ombros. O Discípulo é um filme que prima pela forma sutil com que aborda a perseguição de algo que se quer tanto, mas que por vezes devemos reconhecer ser algo impossível, o que contraria muito aquele velho mandamento cinematográfico de "lutar pelos sonhos que é querer, poder e conseguir até final feliz". Em certo momento Sharad percebe que talvez não consiga a perfeição vocal que deseja, mas o que deve ser feito diante disso? Persistir? Desistir? Revoltar-se? Cabe a ele, e somente a ele, perceber o momento em que atinge seu limite na convivência com algo que lhe é tão caro e, ao mesmo tempo, cada vez mais distante. O ritmo do filme deve atrapalhar a apreciação de grande parte da plateia, mas quem perceber como o drama e o humor se misturam ao longo da narrativa não irá se arrepender. O filme (que também foi indicação ao Independent Spirit de melhor filme internacional) não esquece de mostrar como aquele canto tão cultuado e apreciado quase como uma experiência religiosa, esconda tantas histórias pouco nobres e tenha que conviver com o apelo da música pop e os programas de televisão que buscam novos talentos. É fácil simpatizar com Sharad e torcer por ele (o que atrapalha são aquelas longas tomadas com narrativa em off dele passeando pela cidade), mas apesar do constante flerte com a derrota ao longo da história, a última cena deixa aquela sensação de esperança de que outros talentos também são importantes e outros podem ser encontrados onde menos se espera.
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