Anya e Johnny: nova versão de clássico de Jane Austen.
Este ano foi difícil, tenso e sombrio para o mundo em geral, por isso no último #FDS do ano resolvi dedicar espaço para filmes mais leves e bem-humorados. Aproveito também para comentar alguns filmes que ficaram pelo caminho neste ano atípico e que merecem destaque no ano que passou. Vou começar com esta nova versão da obra da cultuada escritora inglesa Jane Austen, Emma. (assim mesmo com ponto no final) que entrou em cartaz no início do ano pouco antes dos cinemas serem fechados por conta da pandemia. Muita gente ainda deve lembrar da adaptação que o livro recebeu em 1996 estrelado por Gwyneth Paltrow e dirigido por Douglas McGrath e principalmente da releitura feita um ano antes em As Patricinhas de Beverly Hills da cineasta Amy Heckerling com Alicia Silverstone. Para estes o que vemos aqui talvez traga duas novidades que podem causar estranhamento, mas que são aspectos bem fiéis ao livro. Para começar a Emma desta versão é menos simpática que as vistas anteriormente, mas no próprio livro, embora a personagem seja bastante esperta e articulada, ela está longe de ser uma miss simpatia. Vivida por Anya Taylor-Joy, Emma tem um jeito adolescente ainda mais evidente, especialmente pelo seu jeito de estabelecer o que deve ser feito por quem está ao seu redor. Com esta postura ela fica tão preocupada em citar o rumo para a vida dos outros (especialmente no quesito amoroso) que esquece de perceber seus próprios sentimentos e perceber que o amor pode estar mais perto do que imagina. No entanto, o filme nunca se contenta em ser uma comédia romântica, deixando os comentários sociais sobre os preconceitos do período bastante evidentes. Neste ponto, Anya acerta nas notas mais simpáticas e mais ácidas da personagem, especialmente quando ela tem aquela passagem clássica em que demonstra o quanto debaixo de seus sorrisos pode haver realmente uma menina esnobe. Faz parte da evolução da personagem perceber os sentimentos de quem está ao seu lado e sofrer um pouco por isso, sendo um trunfo do filme conseguir fazer isso com leveza e bom humor sem soar frívolo. Claro que existem uma penca de confusões amorosas no caminho e elas envolvem sua amiga Harriet (Mia Goth), o religioso Mr. Elton (Josh O'Connor, o Príncipe Charles de The Crown), o cobiçado Frank Churchill (Callum Turner), a estimada Jane Fairfax (Amber Anderson) e até mesmo seu tutor, Mr. Knightley (Johnny Flynn) - o outro ponto que deve causar estranhamento nesta versão. Sr. Knightley aqui está bem longe de ter pinta de galã, tendo que apresentar outros predicados para ganhar a torcida da plateia (e não me refiro aquela cena em que ele aparece como veio ao mundo em suas primeiras cenas no filme que evidencia uma sensualidade aguçada sempre contida). Cavalheiresco e um tanto áspero, Flynn consegue se impor cada vez mais como a voz da consciência de Emma enquanto ele mesmo se embaralha nas próprias emoções. Este é o o longa de estreia da americana Autumn de Wilde, que opta por um humor refinado, cheio de ironias e gracinhas em torno da percepção de Emma sobre o mundo ao seu redor. Renomada fotógrafa com vários trabalhos na direção de vídeos e curtas, Autumn também capricha no visual do filme. Figurinos, cenários e fotografia são impecáveis e devem aparecer nas premiações que se aproximam. É verdade que ela se embola um pouco na apresentação dos seus vários personagens nos minutos iniciais, mas o filme nunca deixa de ser agradável de acompanhar. Longe de parecer pomposo ou repetir o que já foi realizado nas outras adaptações da autora, Emma. consegue ter personalidade própria e conquista o espectador justamente pelas ambiguidades de sua protagonista ainda em crescimento. Escrito em 1815, o romance de Jane Austen prova que ainda tem muito a dizer sobre relações humanas.
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