Ondine: bela mistura de romance e fantasia.
Não há dúvidas de que Neil Jordan é um grande cineasta, mas faz tempo que um filme do diretor não encontra o sucesso. Apesar de ter assinada o sucesso de bilheteria Entrevista com o Vampiro (1994), Jordan prefere realizar obras mais intimistas e, de preferência, com um romance diferente na trama - foi assim com o filme que o revelou para o mundo (Traídos pelo Desejo/1992) e com seu último sucesso nas telonas (Fim de Caso/1999). Enquanto se dedica à série Os Bórgias e finaliza seu longa Byzantium (novamente sobre vampiors) resta-nos assistir Ondine, ele voltou a contar uma triste história de amor, só que desta vez o público e a crítica não se empolgaram muito com o resultado. O que há de mais interessante em Ondine é a forma como o diretor flerta o tempo inteiro com a fantasia, e, mesmo depois que ela se desmancha ainda resta momentos mágicos no roteiro que tornam a fita mais interessante do que a média. O filme já começa de forma promissora, com a imensidão do mar sob a trilha sonora melancólica. Quando a câmera encontra seu protagonista, um pescador chamado Syracuse (Colin Farrell, ainda empenhado em ser levado a sério) pesca uma mulher (Alicja Bachleda, que parece a irmã mais experiente de Kristen Stewart) em sua rede. Aparentemente não se trata de uma sereia, após ficar consciente, ela deixa claro que possui alguns segredos que prefere não revelar. Desde o início ela prefere ficar escondida, e Syracuse a leva para uma casa abandonada. Ela diz se chamar Ondine e aceita a acolhida do pescador. Não demora para Syracuse perceber que Ondine lhe dá sorte na pesca, basta ela estar a bordo e cantar sua música estranha para que lagostas e salmões sejam pescados garantindo um período de bom sustento. Ciente de que a situação possui um bocado de fantástico, o pescador começa a contar sua história como se fosse um conto de fadas para a filha que possui problemas de insuficiência renal. Diante da história a menina acredita que a mulher resgatada é uma selkie, uma figura do folclore escocês que é meio mulher, meio leão marinho e que ao estar na terra esconde sua capa marinha para conviver entre os humanos. O filme utiliza bastantes elementos folclóricos para prender a atenção do espectador, tornando Ondine cada vez mais misteriosa, aceitando as fantasias da menina e nutrindo um afeto cada vez maior por Syracuse - cujo apelido Circus, já demonstra que não era levado a sério pela vizinhança local devido ao alcoolismo. Jordan conta sua história no ritmo correto, aprofundando as relações do trio principal sem pressa, com belas paisagens e sinais de que o contato desse mundo imaginário com a realidade será inevitável. O filme funciona que é uma beleza como fábula romântica tratando Ondine como figura envolvente com sua história regada às sete lágrimas necessária para viver com o pescador de seu conto de fadas. Quando homens estranhos aparecem na cidade em busca dela, sabemos que as coisas vão tomar outro rumo. É belíssima a cena em que Syracuse desiste do romance improvável com um ser mitológico, mas existe uma virada brusca pouco depois - e o filme acaba errando a mão por não utilizar um caminho mais sutil para abordar a triste história de Ondine. Quando resolve retomar a atmosfera anterior a sensação é que algo se perdeu, talvez por pressão dos produtores ou por não confiar na história de amor singela que tinha em mãos, o diretor injetou doses de violência na história. Sorte que até chegar nessa parte já estamos totalmente absorvidos pelo romance dos dois - que consegue utilizar elementos fantásticos com bastante equilíbrio, sem cair no ridiculo. Para melhorar, o filme ainda é embalado pelas melodias de uma das minhas bandas favoritas, a islandesa Sigur Rós. Apesar da bilheteria modesta, trata-se de um filme para assistir e ficar na mente (e nos ouvidos) por vários dias.
Ondine (Irlanda/EUA-2009) de Neil Jordan com Colin Farrell, Alicja Bachleda, Alison Barry, Tony Curran e Stephen Rea. ☻☻☻☻
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