O casamento de Joanne (Adèle Exarchopoulos) e Jimmy (Moustapha Mbengue) parece ter vivido dias melhores quando os dois surgem na tela. Talvez aquela paixão dos primeiros anos tenha ficado para trás, ao menos a pequena Vicky (Sally Dramé) traz algum movimento para a casa de seus pais. A menina gosta de acompanhar a mãe nas aulas de natação ou quando Joanne vai treinar nado em um lago das redondezas. Nas horas vagas, Vicky gosta de guardar coisas em potes com líquidos variados, em experiências que são motivadas mais pela curiosidade do que qualquer outra coisa. Quando Julia (Swala Emati), a irmã de Jimmy, anuncia uma visita, o marasmo daquela casa começa a dar origem a conflitos, uma vez que Joanne deixa claro que não gosta da presença da cunhada. O motivo da pendenga das duas faz parte do segredo que move Os Cinco Diabos, longa de estreia de Léa Mysius que brinca com suspense, fantasia e viagens no tempo em torno da história de amor de duas mulheres, que quando jovens começaram a trabalhar juntas num grupo de ginástica olímpica, mas a coisa desandou por conta de uma tragédia no ginásio da cidade. Aquele acontecimento também marcou para sempre Nadine (Daphne Patakia), amiga de Joanne e ex-namorada de Jimmy, que traz mais do que marcas em sua aparência, mas de ressentimentos também. Se por um lado Léa Mysius faz bem em não complicar os elementos fantásticos de seu roteiro, por outro, ela acaba deixando tudo um pouco óbvio para os espectadores mais escolados - que desde a primeira cena de volta ao passado, já começam a entender o que pode ter acontecido no passado de Julia. O que o filme faz melhor é sobrepor o peso dos estigmas e preconceitos sobre os seus personagens, este aspecto até parecer de forma mais explícita no racismo sofrido por Vicky em sua escola repleta de crianças brancas, mas ganha outros contornos quando Julia está no centro da história. No presente, só a sua presença, já incomoda os demais personagens, existe o peso de um ato impensado do passado, mas também a mistura de olhares receosos de sua loucura, desejo e, porque não, de sua própria cor entre os outros habitantes. Ela é tida como a estranha que tira a vida de todos do eixo, que altera toda a normalidade da cidadezinha e, não por acaso, se confronta sempre com o efeito colateral de sua atitude derradeira em silêncio. Embora a personagem misture sentimentos distintos, ao retornar, ela aparentemente aceita o que pensam sobre ela, numa espécie de expiação por sua culpa. Não por acaso, é possível presenciar a forma luminosa como Joanne contempla uma explicação para tudo o que antes parecia absurdo e sentimentos que parecia tão sem sentido, voltam a dar sinais de vida. Os Cinco Diabos escorrega aqui e ali e por vezes se arrasta na narrativa, mas acerta quando busca caminhos diferentes para a história de amor entre duas mulheres e o efeito do perdão em suas vidas.
Os Cinco Diabos (Les Cinq Diables / França - 2022) de Léa Mysius com Adèle Exarchopoulos, Swala Emati, Sally Dramé, Moustapha Mbengue, Daphne Patakia e Hugo Dillon. ☻☻☻
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