Willi Herrold (Max Hubacher) é um soldado desertor, o que o torna um criminoso de guerra. Longe de seu grupo, ele vaga por uma Alemanha inóspita em busca de comida. Com frio e caçado pelo exército, sua vida não tem muita perspectiva no cenário da Segunda Guerra Mundial, mas suas circunstâncias mudam quando encontra o uniforme de um oficial nazista dentro de um carro. Ele veste a roupa e parece ter resolvido o problema do frio aterrador que o cerca, mas ao ser encontrado pelo soldado perdido Freytag (Milan Peschel), que o confunde com um Capitão nazista, Herrold percebe que pode deixar de ser um desertor, basta melhorar a postura e ter uma fala firme para que sua roupa faça o resto e se torne uma personalidade imponente no ambiente em que se inserir. Freytag é apenas o primeiro a seguir o falso capitão, aos poucos, o protagonista começa a ser seguido por um grupo de soldados rebeldes que tornam sua presença ainda mais ameaçadora. Logo ele estará em uma base militar massacrando criminosos de guerra, como ele mesmo, apenas pelo gosto que o poder proporciona à sua pessoa desprezível. Colabora muito para isso que a Alemanha esteja prestes a perder a Guerra e o ódio generalizado esteja cada vez mais presente. Quando tudo parece perdido, a presença de uma autoridade sem nada a perder é o suficiente para alimentar as atitudes mais desumanas de quem está ao seu redor. Esta é a trama de O Capitão, filme de Robert Schwentke (que passou um tempo fazendo filmes de ação em Hollywood, sendo o mais bem sucedido o bem humorado RED de 2010), aqui ele ousa mostrar a segunda Guerra Mundial sobre uma perspectiva diferente. Existe aqui algo que já vimos em O Leitor/2008 sobre a obediência cega às ordens mais escabrosas, mas existe mais ainda do apresentado por Oliver Hirschbiegel em Das Experiment (2001) em que as roupas dos passam a ditar a postura dos personagens. De certa forma, O Capitão vira esta última referência do avesso, uma vez que as atitudes do personagem vai de encontro ao que vários outros desejam fazer, mas precisavam de uma autoridade para legitimar seus desejos de barbárie. Nos momentos mais nefastos, o fiel Freytag se torna uma espécie de contraponto à crescente de horror dos atos praticados por Herrold. Talvez por parecer algo tão absurdo o filme invista num humor sinistro em vários momentos, especialmente em seu último ato que beira o surreal quando o Capitão e seus seguidores partem para a cidade e o filme se entrega aos seus momentos mais delirantes. Schwentke também assina o roteiro que é baseado em uma história real e o seu final deixa claro como a realidade pode realmente ser mais assustadora que a ficção. Filmado em preto e branco ressaltando a seriedade da história, O Capitão é um filme sobre o passado que remete diretamente ao presente e, talvez por isso mesmo, assuste ainda mais. Em cartaz no Prime Video, este é o melhor filme do cineasta e, embora tenha ficado de fora das grandes premiações, é uma obra que merece atenção.
O Capitão (Der Hauptmann/Alemanha - França - Polônia/2017) de Robert Schwentke com Max Hubacher, Milan Peschel, Frederick Lau, Max Thommes, Alexander Fehling e Bernd Hölscher. ☻☻☻☻
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