Hader: brilhante forma de reformular uma carreira.
Eu sei que estou atrasado, mas demorei para ver o último episódio de Barry que faz algumas semanas já foi ao ar pela HBO e está disponível no streaming desde então. Desde então ouvi algumas reclamações sobre o salto temporal que a última temporada fez para apresentar o desfecho das desventuras do assassino profissional que passa a ser aluno de uma escola de teatro meio que por acaso. Quem acompanha a série sabe que o salto temporal já era anunciado desde as primeiras temporadas, ainda que a ideia tenha sido deixada de lado nos últimos anos (coloque uma pandemia no meio disso tudo e o esquecimento é mais do que justificável). O fato é que Barry chegou em sua quarta e última temporada como um verdadeiro triunfo de Bill Hader, um ótimo ator que geralmente ficava restrito a pequenos papéis cômicos (provavelmente por seu envolvimento com o Saturday Night Live), mas cuja carreira deve seguir novos rumos daqui para frente (basta lembrar que é dele a melhor atuação em It - Capítulo 2). Desde que Barry estreou, Hader ganhou vários prêmios e seu trabalho na direção de alguns episódios também valem uma menção honrosa pela forma como constrói a tensão entre o cômico e o trágico nas confusões em que seu personagem se envolve. Com a clara intenção de deixar um final redondinho para os personagens, a quarta e última temporada tinha um enorme problema pela frente: a estupenda terceira temporada da série. No último ano foram tantos acontecimentos surpreendentes em torno de Barry ser desmascarado que a última cena deixou suspensa a respiração da plateia. Com um ponto de partida desses, o início da temporada é até previsível, restando aos roteiristas fazerem o que é possível com as peças que estão em torno do protagonista. São em torno de Hank (Anthony Carrigan) que ocorrem os acontecimentos mais marcantes da temporada, dando cores mais tristes ao personagem, enquanto Fuches (Stephen Root) se torna um vilão com sede de sangue. Já Gene Cousineau (Henry Winkler) ainda tenta reerguer sua carreira com os cacos que catou pelo caminho. O salto temporal também serve para Sarah Goldberg dar nuances diferentes à geralmente antipática Sally Reed, mas, principalmente, produzir um desfecho digno da indústria do entretenimento sedenta por heróis de filmes de ação enquadrados em uma divisão maniqueísta de mocinhos e bandidos. Barry, a série, sempre foi o oposto desta proposta simplista e o que fica após todas as trapalhadas assassinas do protagonista é o registro do total oposto do que ele era. Trata-se de um toque irônico que só ressalta a genialidade de Hader. Ainda que esta temporada derradeira não tenha o impacto da anterior, Barry merece entrar para a história como uma das melhores séries do século XXI.
Barry - Temporada Final (EUA - 2023) de Bill Hader com Bill Hader, Sarah Goldberg, Henry Winkler, Anthony Carrigan, Stephen Root e Michael Irby. ☻☻☻☻
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