Quando lançou O Grande Chefe, o dinamarquês Lars von Trier dizia ter deixado as provocações de seus últimos filmes de lado em nome de uma comédia leve sem maiores pretensões. Ele chega a insinuar isso quando assume o papel de narrador em na trama sobre Ravn (Peter Gantzler) o dono de uma empresa do ramo da informática, que com medo da rejeição de seus funcionários, atribui as decisões mais difíceis ao chefe de todos que vive nos Estados Unidos. Só que Ravn está prestes a fechar um negócio milionário e precisa que o chefe fictício apareça para concluir a transação. Para dar voz e corpo ao tal personagem ele contrata o ator desempregado (Jens Albinus) para bancar o dono da empresa. O problema é que o ator não faz a mínima ideia de como agir, some isso à total falta de disposição do verdadeiro chefe falar sobre como aquele personagem de mentira lidava com aquele grupo de pessoas e tudo só piora, criando uma sucessão de situações um tanto vergonhosas que parecem improvisadas pelo elenco para testar as reações do ator perdido em cena. De certa forma é como se Lars propusesse a Jens Albinus o inverso do que experimentaram no ácido Os Idiotas (1998), mas se o espectador pode achar graça de alguns momentos, na aior parte do tempo, sobra um tanto de irritação pelo comportamento dos dois cúmplices nessa mentirada toda. Quem conhece o diretor dos tempos da série O Reino (também disponível na MUBI), pode afirmar que seu jeito de fazer graça é igualmente pelo viés da provocação, sendo aqui ao redor do mundo corporativo e a relação entre patrões em empregados. No entanto, só isso não satisfaz Lars e ele ainda arranja espaço para falar sobre o ego dos artistas (sobretudo dos atores) e suas vaidades, o que terá papel decisivo no desfecho surpreendente da trama. De resto, Lars faz o mesmo de sempre, filtros que se alternam sem cerimônia, aqueles cortes descontínuos, atores fora do esquadro e perda de foco aqui e ali. Pode ser divertido se você entrar na proposta, especialmente pelo trabalho dos atores responsáveis por encarnar os empregados que parecem estar se divertindo no enorme trote em cima do protagonista. Quando tudo chega ao fim, fica ainda mais evidente que o chefe de todos nesse exercício de cinismo é o próprio Lars von Trier.
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