quarta-feira, 7 de junho de 2023

PL►Y: As Ceifadeiras

 
Brent e Alex: o outro feito espelho. 

Ambientado na África do Sul, o filme nos apresenta Janno (Brent Vermeulen), um adolescente que cresceu na região de Free State, um reduto de minoria étnica branca denominada Afrikaans. A rotina da localidade é essencialmente agrícola e ditada pelo conservadorismo. A masculinidade pautada pela força fica bastante evidente pela presença de Jan (Mornée Visser), o pai de Janno e a religiosidade é representada pela fé de Marie (Jualiana Venter), a mãe,  que percebe a vida como um conjunto de provas que irão lhe reservar um lugar no paraíso. A rotina da família, que é ainda composta por meninas pequenas, se divide entre o trabalho nas plantações, orações e igreja. A situação muda quando Marie e Jan acolhem Pieter (Alek van Dyk) que estava em situação de vulnerabilidade social acentuada. Ele não conheceu os pais, se tornou usuário de drogas e sofria situações inimagináveis quando vivia nas ruas. Existe um alto contraste entre os dois jovens rapazes da casa. Janno é bastante sensível, dotado de responsabilidades e uma certa melancolia. Pieter é rebelde, arredio e com uma certa dificuldade em aceitar regras. No entanto, Marie percebe no filho um cúmplice na transformação que a vida do novo membro da família pode ter e lhe pede ajuda sempre que possível. Conforme os dois meninos se aproximam, um percebe no outro traços que revelam que eles possuem mais coisas em comum do que imaginam. As Ceifadeiras marca a estreia do sul-africano Etienne Kallos na direção de longa-metragens e ganhou destaque no Festival de Cannes na mostra Un Certain Regard que o colocou na lista de concorrentes à Camera D'Or destinada aos cineastas estreantes. Desenvolvido de forma lenta e contemplativa, o filme sugere aqui e ali a forma como os dois adolescentes lidam com a sua história pessoal e a sexualidade. Este último aspecto gerou polêmica no lançamento do filme. Se a sexualidade de Janno se torna sufocada pela religiosidade de sua comunidade, a de Pieter revela-se de forma muito mais agressiva, por vezes pelo viés de situações em que é jovem demais para perceber o quanto é explorado. Existe aqui um peso da fé muito grande sobre os personagens, não apenas sobre os dois meninos, mas sobre os pais, o que só amplia a força de algumas verdades quando reveladas. É um longa que se desenvolve aos poucos, com bela fotografia e bom trabalho de seus atores, sobretudo de Brent Vermeulen em um personagem bastante introspectivo e que o jovem ator encontra a exata medida de suas emoções. Curiosamente, no terceiro ato uma sensação de fraternidade emerge da narrativa e torna o filme ainda mais doloroso.

As Ceifadeiras (Die Stropers/África do Sul - França - Grécia - Polônia / 2018) de Etienne Kallos com Brent Vermeulen, Alek van Dyk, Juliana Venter, Mornée Visser, Erica Wessels e Danny Keogh. 

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