Em 2015 houve um incêndio em uma casa de shows na Romenia, a Colectiv. Uma banda fazia seu show de despedida para uma casa lotada e efeitos de pirotecnia mal sucedidos provocaram o fogo que se alastrou rapidamente. Alguns fãs que registravam o show com o celular gravaram aquele momento assustador. O pânico. Os gritos. A fuga desordenada de pessoas (um desses registros aparece em Colectiv) filme romeno que concorreu ao Oscar de melhor documentário e melhor filme em língua estrangeira no Oscar de 2020. No incêndio faleceram 27 pessoas e 180 sofreram ferimentos e queimaduras. Estes últimos foram encaminhados para um hospital cuja especialidade era cuidar de vítimas de queimaduras. Parecia tudo resolvido. No entanto, passadas algumas semanas, dezenas de pacientes faleceram de infecção hospitalar, entre elas, pessoas que não foram sinalizadas com queimaduras graves. As coletivas de imprensa das autoridades não fazia muito mais do que se desculparem com as famílias pelas perdas e ressaltarem medidas que seriam tomadas. Não satisfeitos um grupo de jornalistas queriam entender o que aconteceu no hospital e ao se depararem com o argumento de que havia uma superbactéria existente na Europa, os jornalistas se depararam com uma outra realidade. Uma muito mais cruel e inacreditável, uma vez que ela poderia ter sido evitada. O filme de Alexander Nanau se desenvolve em ritmo investigativo invejável e apura as situações que se seguiram a partir da matéria publicada pelo jornal. Das justificativas frágeis das autoridades, passando por descobertas revoltantes sobre envolvimento entre empresas e profissionais que se preocupavam mais em ter vantagens do que realizar seu trabalho. No meio de tanta confusão aparece um novo ministro da saúde que passa a ser acompanhado pela produção e se as suas boas intenções parecem legítimas, ele se depara com um sistema que não está disposto a mudar. É então que o jogo político se revela e demonstra como é fácil ser seduzido por retóricas que dizem o oposto do que aparentam. Em cartaz na HBOMax, Colectiv é um documentário fascinante por conseguir captar algo que pode acontecer em qualquer lugar, mas se torna ainda melhor pelo tom impresso por Nanau que o transforma em um filme tão complexo que parece ser uma dramatização de um fato real, dada a forma como os fatos se desencadeiam e trazem novas nuances para a narrativa dos acontecimentos. É um daqueles casos em que a realidade é tão complexa que supera a ficção. Entre jornalistas, políticos, vítimas e médicos, Colectiv cria um painel surpreendente e caminha para um desfecho em que o final feliz parece cada vez mais distante. Infelizmente o Oscar não veio, mas o filme merece atenção não apenas pela situação que resgata, mas pela forma como é construído.
Colectiv (Romênia - Luxemburgo - Alemanha / 2019) de Alexander Nanau com Razvan Lutac, Mirela Neag, Camelia Roiu, Florin Secureanu, Catalin Tolontan e Vlad Voiculescu. ☻☻☻☻
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