Ema (Mariana Di Girolamo) é uma dançarina que está em crise pessoal. Tudo indica que a crise teve início quando seu desejo de ser mãe encontrou um grande obstáculo quando descobriu que seu marido, Gastón (Gael Garcia Bernal), um artista performático, era estéril. Os dois resolveram então adotar um menino nas portas da adolescência, só que Ema teve que enfrentar suas próprias frustrações diante da maternidade através de um menino que não nasceu de seu ventre. Após uma sucessão de acontecimentos, ela decidiu devolver o menino para o lar adotivo de onde o tirou. Só por esse trecho, percebe-se a sensação de fracasso pessoal que paira sobre a personagem e ela é ampliada ainda mais pelo julgamento de todos os personagens que estão ao seu redor, especialmente de sua família que foi diretamente afetada por uma das atitudes do menino. No entanto, com a cabeça mais arejada, Ema sente um grande arrependimento e percebe que fez errado ao desistir do menino quando na verdade deveria tê-lo acolhido. Por outro lado, conforme avança a narrativa de Ema, percebemos que as atitudes controversas do garoto (que não aparece na maior parte do filme) refletem muito do casal que o escolheu para compor um lar. São essas complexidades que tornam o filme de Pablo Larraín um verdadeiro quebra-cabeças, que conforme as peças vão se juntando alcança um retrato no mínimo doentio de sua protagonista. Ela demonstra ter uma relação bastante complicada com todos que estão ao seu redor e não mede esforços para envolver outros personagens em sua jornada para reaver o filho que deixou para trás. O curioso é que o diretor faz questão de não explicar muito ao espectador sobre o que está acontecendo, deixando que ele descubra o que se passa na história conforme tenta encaixar as cenas aleatórias ao longo da sessão. A presença de uma assistente social esperta (a ótima Catalina Saavedra), uma advogada insatisfeita (Paola Gianini) e um bombeiro bonitão (Santiago Cabrera) se tornam peças importantes para o rumo que a trama irá tomar, da mesma forma que o interesse da personagem título por fogo revela muito sobre sua personalidade incendiária. No entanto, embora o roteiro esteja cheio de situações para desenvolver e o diretor invista cada vez mais numa estética moderninha (com cenas de dança, projeções e luzes neon), falta ao casal protagonista a energia para carregar tudo isso nos ombros. Mariana di Girolamo nitidamente não sabe muito bem o que fazer com toda a complexidade de Ema, assim como Gael parece disposto a ser apenas um espectador de todas as situações em que se mete por conta dela. A edição arrastada também não ajuda, de forma que senti uma dificuldade enorme de me envolver com os personagens, especialmente com Ema que mostra-se bastante ardilosa e manipuladora mas sem carisma capaz de seduzir. A última cena do filme só deixa claro que ela é um risco para quem está por perto, inclusive à ela mesma. O filme parece um amontoado de ideias interessantes nunca plenamente desenvolvidas. Apesar de não ter curtido o filme (em cartaz no TelecinePlay) o longa foi eleito o melhor filme Ibero Americano no GP Cinema Brasil em 2022.
Ema (Chile/2019) de Pablo Larraín com Mariana di Girolamo, Gael Garcia Bernal, Paola Gianini, Santiago Cabrera, Catalina Saavedra, Critián Suárez e Diego Muñoz. ☻☻
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