Ben, Adèle e Franz: discutindo à relação.
Ira Sachs tem um histórico de filmes bastante interessantes sobre relacionamentos. Talvez sua obra-prima seja O Amor é Estranho (2014) que foi aclamado pela crítica, mas ficou relegado às premiações de filmes independentes. O maior tropeço de sua vida foi seu último filme, Frankie (2019) estrelado por Isabelle Huppert, mas nem ela consegue salvar o filme do marasmo completo (eu tentei assistir, mas funciona melhor do que remédio para dormir). Por conta disso, a expectativa para seu projeto seguinte era grande, sendo um grande desejo de seus admiradores que se redimisse. Para cumprir a missão, Ira uniu três atores europeus badalados e famosos por seus trabalhos em filmes alternativos. O cineasta foi um sábio, já que são eles que prendem a atenção do espectador. Passages tem um clima de amor moderninho ao apresentar o relacionamento tórrido de Tomas (Franz Rogowski) com Agathe (Adèle Exarchopoulos). Ele é um jovem cineasta alemão, ela é professora. A atração entre os dois é instantânea e poderia render uma história de amor como tantas as outras se Tomas não fosse casado com Martin (Ben Whishaw). Ao que as primeiras cenas dos dois rapazes juntos indicam, a coisa não anda muito bem em casa. O fato é que Thomas fica fascinado por ter se relacionado com uma mulher e se entrega àquela relação esperando a compreensão do parceiro. Quando a coisa desanda de vez, a gravidez de Agathe parece mudar a situação entre os três, mas o comportamento de Tomas é cada vez mais instável e manipulativo. A narrativa sobre esse triângulo amoroso é uma situação complicada de desenvolver, especialmente porque em determinados momentos você não sabe quem está sendo usado por quem. Já que o casal gay adora a ideia de finalmente ter um bebê em casa, mas Agathe não está interessada em dividir Tomas com outro homem (e Martin também não está interessado em dividi-lo). Existem algumas camadas na história que nunca são ditas, apenas sentidas pelo espectador que vê o que poderia ser o anúncio de um filme sexy para acompanhar uma colagem de relações desagradáveis entre o trio. Sachs desenvolve o filme com seu ritmo habitual, lento como quem observa as engrenagens de um relógio prestes a emperrar. Quanto ao elenco, a musa Adèle Exarchopoulos continua interpretando a mesma personagem de sempre enquanto Franz Rogowski (que é um ótimo ator) está totalmente desconfortável em cena, passando a impressão que não gosta do personagem e topou entrar no projeto pelo cachê. Com ele em cena fica difícil entender o que o personagem tem de tão sedutor. Enfim, não funcionou (e para um fã dizer isso é triste!). Quem dá liga mesmo ao que vemos na tela é Ben Whishaw, que está contido em uma interpretação que lembra muito o estilo da veterana Charlote Rampling. Com olhar tão intenso quanto desviante, lábios tensionados e uma postura de quem está bastante incomodado com aquilo tudo, o britânico rouba a cena. Mas não se preocupe, Ira. Você acaba de se redimir.
Passagens (França - Alemanha / 2023) de Ira Sachs com Franz Rogowsky, Adèle Exarchopoulos, Ben Whishaw, Erwan Kepoa Falé, Caroline Chaniolleau, Théo Cholbi e Arcadi Radeff. ☻☻☻
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