domingo, 8 de outubro de 2023

PL►Y: Batem à Porta

 
Ben, Kristen e Groff: rumo ao apocalipse. 

Todo mundo sabe que M. Night Shyamalan adora um suspense. Seus filmes geralmente são baseados em algum mistério que gera acontecimentos inesperados e que, quase sempre, guarda para o final uma grande revelação. Por muito tempo, os filmes do diretor dependiam tanto dessa guinada na história que ele se via na necessidade de criar algo surpreendente (isso acontece desde o início de sua carreira com o elogiado O Sexto Sentido/1999) mas na maioria das vezes a coisa tende ao ridículo. Por conta disso, ver um filme do diretor ganhou um elemento extra: só penso no que ele irá aprontar. Em Batem à Porta, Shyamalan faz o favor de se livrar de um bocado dos seus vícios e, por conta disso, o filme surpreende. A ideia é bastante simples: um casal resolve passar uns dias numa casa de campo com a filha pequena. Um dia aparecem quatro pessoas que invadem a casa, amarram o casal e diz que o mundo está prestes a acabar e depende de um deles escolher qual dos dois irá morrer para  que o mundo seja salvo. Enquanto o casal não decide, coisas estranhas começam a acontecer ao redor do mundo e o comportamento dos quatro invasores se torna cada vez mais esquisito. No meio disso tudo existe um tempero especial com o fato do casal ser formado por dois homens, que logo associam toda aquela sandice à homofobia que precisaram lidar durante toda a vida. É por conta da sensação de ter sido rejeitado a vida toda que Andrew (Ben Aldridge, que eu jurava que era o Jamie Dornan por boa parte da sessão) não tem a mínima vontade de sacrificar a família que construiu por um bem maior. Para ele, a humanidade não merece tanto. Já Eric (Jonatham Groff que faz tempo está na minha lista de atores mais interessantes de Hollywood) é mais contido e começa repensar suas certezas, afinal, e se tudo aquilo for verdade? E se o mundo realmente vai acabar e está nas mãos deles o destino da humanidade? Entre ser tudo uma grande farsa ou ser uma realidade apocalíptica de fato, o filme encontra um surpreendente equilíbrio no trabalho de seus atores, que junto ao ritmo lento e solene do diretor evita que tudo caia no ridículo. Colabora ainda mais para isso o trabalho do grandalhão Dave Bautista como líder do estranho quarteto. Sua serenidade é o contraponto que o filme precisa para lidar com  a dúvida que se instaura na mente do espectador. Embora em determinado momento tudo se torne um jogo para tentar escapar daquela situação, Batem à Porta nos faz pensar sobre o que escolhemos aceitar como verdade, assim como a forma como lidamos com ela perante o que consideramos aceitável ou não, além disso traz a ideia de que a religião se tornou uma fantasia para a maioria das pessoas. Particularmente eu me identifico muito com o ponto de vista de Andrew, mas toda vez que eu via a pequena Wen (Kristen Cui) abraçando os dois e fechando os olhos como se fosse uma oração para que todo aquele horror acabasse... eu mesmo desejei ser capaz de acabar com toda aquela angústia. É um dilema que se instaura na cabeça do espectador e que enriquece o filme, que revela o final mais sóbrio idealizado pelo cineasta em muito tempo, não por acaso, baseias-se no livro O Chalé no fim do Mundo de Jacob Tremblay. Embora não tenha recebido muita atenção em sua estreia, Batem à Porta foi uma grata surpresa e está disponível no TelecinePlay. 

Batem à Porta (Knnock at the Cabin/EUA - 2023) de M. Night Shyamalan com Dave Bautista, Ben Aldridge, Jonatham Groff, Kristen Cui, Rupert Grint, Abby Quinn e Nikki Amuka-Bird. ☻☻☻☻ 

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