Florence e Freeman: encontro de talentos.
Morgan Freeman aos 86 anos pode ser considerado um colosso do cinema. Com mais de 150 produções no currículo desde sua estreia no cinema em 1964, o ator tem quatro indicações ao Oscar e um foi para sua estante por seu trabalho como coadjuvante por Menina de Ouro (2004) dirigido pelo amigo Clint Eastwood. No entanto fazia tempo que ele não tinha um papel tão bom para trabalhar como neste Uma Boa Pessoa, que está em cartaz no Prime Video. Não bastasse isso, o ator está muito bem acompanhado de Florence Pugh. Aos 27 anos, a inglesa nascida em Oxford, conseguiu o feito de construir em dez anos a melhor carreira que uma jovem atriz seria capaz. Há quem compare sua ascensão com a de Jennifer Lawrence, mas acho que ela está mais para Kate Winslet, especialmente pelo tratamento que o Oscar irá lhe dar com indicações que irão se acumular até que ela finalmente receba uma estatueta. Pugh merecia ter pelo menos umas quatro indicações até agora, mas foi lembrada somente pela versão mais recente de Adoráveis Mulheres/2019 em que fez a irmã caçula de Jo March. Misturar esses dois talentos no mesmo filme é um verdadeiro deleite para o público. Florence vive Allison, uma jovem feliz que está prestes a se casar com o amor de sua vida, Nathan (o bom Chinaza Uche). No entanto, ela se tornará responsável por um acidente que deixará a relação de ambos insustentável, ao menos, para ela. Para além das feridas físicas deixadas pelo acidente, as feridas emocionais são ainda mais graves e Allison sente a necessidade de encontrar refúgio cada vez mais em seus medicamentos. Eles servem não apenas para suportar a dor, mas também esquecer tudo o que a vida deixou de ser após aquele fatídico dia. É um trabalho pesado que Pugh tem pela frente, mas o consegue fazer com tanta convicção parece até fácil despertar a empatia da plateia. Eis que ao precisar lidar com seus problemas, ela irá se aproximar do ex-sogro, Daniel (Morgan Freeman), que também possui um bocado de feridas para cuidar e considera que sua experiência pessoal pode ajudar a jovem a se recompor. Este é o quarto longa metragem dirigido por Zach Braff, que teve uma estreia promissora com Hora de Voltar (2004) e desde então não tinha realizado nada muito especial, até este aqui. Embora invista no melodrama e simplifique demais algumas questões quando a neta de Daniel ganha mais destaque na história, a relação entre Daniel e Allison se torna um grande trunfo na história, afinal, quando estão próximos questões como culpa, luto, expiação, perdão e superação ganham corpo de forma bastante orgânica graças à atuação de ambos - além de evocar um bocado de ironias em torno da ideia de que podemos ter controle sobre tudo na vida (a construção de miniaturas de Daniel ressaltam isso no contraste com a vida real que sempre sai das rédeas dos personagens). O filme só deixa a desejar quando chega ao seu último ato e se torna um tanto apressado para resolver as situações que foram apresentadas ao longo da sessão. Você torce por Allison, torce por Daniel, torce por Nathan e quer que tudo volte a se encaixar, ao menos a última cena deixa para que façamos este ajuste do destino em nossa mente. O filme foi lançado nos cinemas americanos em março, mas se fosse lançado agora no final do ano, renderia facilmente burburinho para as premiações. Morgan Freeman está em um dos seus melhores papéis em muito tempo e Florence está ótima, como sempre. As indicações aos prêmios podem não vir, mas ambos merecem todos os elogios. Uma Boa Pessoa é um filme sobre dores variadas e pode causar identificação em qualquer um.
Uma Boa Pessoa (A Good Person/EUA-2023) de Zach Braff com Florence Pugh, Morgan Freeman, Chinaza Uche, Molly Shannon, Celeste O'Connor, Nichelle Hines e Alex Wolff. ☻☻☻☻
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