Desde que a primeira sessão de Cassandro terminou começou a torcida para que o mexicano Gael García Bernal receba sua primeira indicação ao Oscar. O ator tem prestígio de sobra em Hollywood e ao redor do mundo, mas embora tenha participado de vários filmes indicados ao prêmio, ele nunca entrou no páreo por sua atuação. O ator irá completar 45 anos no mês que vem e o rosto de galã latino recebeu cabelos grisalhos com a maturidade, mas na pele do ídolo de lucha libre Saul Armendaríz seus cabelos estão louros como mandam o figurino. Saul nasceu no Texas em 1970 e começou a participar das luchas em 1988. Depois de anos encarnando um personagem chamado Topo, que sempre perdia, o rapaz ficou cansado de derrotas. Ele procura ajuda de uma respeitada lutadora (Roberta Colindrez) para treiná-lo e criar um novo personagem. Ela nota desde o início que ele poderia ser um "exótico", um tipo de lutador que chama mais atenção pelas roupas e atitudes espalhafatosas do que propriamente por sua força e presença intimidadora. Saul não se anima muito, afinal, um exótico costuma perder de mesmo jeito. É assistindo novelas mexicanas e apreciando as roupas de sua mãe que ele constrói a identidade de Cassandro (até o nome tem origem de uma personagem de novela). Ele difere dos outros luchadores por não usar máscara e assumir no ringue uma atitude totalmente gay. Cassandro era a libertação de Saul. As roupas exuberantes com animal prints, dourado, prata e muita maquiagem fazem com que sua presença chame a atenção em um ringue dominado por brutamontes que transbordam testosterona. Enquanto os outros tentam impor a força, Cassando adota atitudes debochadas que flertam com o homoerotismo e se de início muitos consideram aquilo um desrespeito ao ringue, aos poucos ele ganha respeito no ramo, partindo para um número cada vez maior de convites e atenção midiática. Obviamente que perante aquele universo os gritos homofóbicos em coro são inevitáveis, mas o luchador sabe como se impor e fazer com que o público passe a vê-lo com outros olhos. O que sustenta literalmente o filme é a presença de Gael, que imprime ao personagem uma emoção genuína, seja na companhia da mãe, Yocasta (Perla de La Rosa), nos conflitos em sua relação clandestina com outro luchador (Raúl Castillo) ou na busca por reconhecimento, no entanto, o filme vai perdendo sua energia ao longo da sessão, de forma que momentos como o reencontro de Saul com o pai não gera muito mais do que indiferença da plateia. O diretor Roger Ross Williams se aventura pela primeira vez em fora do gênero documental. É dele a recente minissérie documental Supermodels (2023) da AppleTV e o documentário Love to Love You, Donna Summer (2023) que está na HBOMax. Roger foi premiado com o Oscar pelo curta Short Subjects (2010) e voltou a ser indicado em melhor documentário por Life Animated (2017), ou seja, o cineasta sabe contar histórias, mas aqui ele poderia ter adotado uma narrativa mais exuberante para retratar um personagem que se tornou icônico para a comunidade LGBTQIAPN+ latina dos Estados Unidos. Contido na condução da história de um personagem tão carismático, o filme parece não alcançar todo o potencial que exibia em seu início. Ao menos, Gael está pleno no papel principal e se sua indicação ao Oscar de atuação sair, será muito justo!
Cassandro (México / EUA - 2023) de Roger Ross Williams com Gael García Bernal, Perla De LA Rosa, Roberta Colindrez, Raúl Castillo, Gigántico, Leonardo Alonso, Yavor Vesselinov, Bad Bunny e Robert Salas. ☻☻☻
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